Sim, eu evito este tipo de assunto. Não cabe a mim ficar aqui no bla-bla-bla do que vale ou não para o leitor. Osinternautas estão cada vez mais tempo na rede e entram onde querem, quando querem, pelo tempo que lhes interessa. O blog – qualquer um – fica na intersecção do conteúdo com o ato deles. Conquistá-los, até aqui, é muito trabalho, suor, alguma inspiração e muita escuta.
Semana passada, o Renato Shirakashi publicou um post sobre o tema, repercutido pelo Norberto – que sente falta de ações concretas. São duas pessoas que respeito e preciso dizer, conheço ao vivo – aquele passinho que faz toda a diferença e nos leva além da nossa convivência digimundística, marcada pelas listas, twitters e mensageiros da vida. E discordo da análise de ambos.
Relevância é algo endógeno. Reconhecimento pelo próprio grupo. Nhé. Eu quero é “leitorado” – de preferência assinando meu feed. Acontece, sim, que a gente (eu inclusa, vejam, sem um bannerzinho, ainda sem instalar os widgets do boo-box…) quer ganhar dinheiro com o blog. Se possível, viver bem com este trabalho. E quem quer/tenta ganhar dinheiro com o blog precisa de muitos ingredientes: paciência de agricultor; faro e fôlego de repórter especial; tenacidade de foca atrás do seu primeiro furo. Sem este exercício, a falha é muito provável. Relevância? Leia os posts do Jânio e do Anderssauro, também da semana passada.
Nas duas críticas, senti falta de dados, histórias, comparações. Do quê estão falando? O que é a “blogosfera brasileira”? [começa aqui um longo parênteses] Lembrei na hora do que aconteceu em abril lá no Faça a Sua Parte. Pois é. Eu fiz um post, em fevereiro do ano passado, sobre o site Amazônia para Sempre. Bastou o seu Faustão, com aquele programa ridiculamente ruim e majoritariamente assistido, falar do site e os comentários bombaram. Flood na caixa de e-mail, montanhas de salsinhas perdidas, encheção.
A razão, todo mundo parece saber (e pra quem ainda não sabe, a gente se encarrega de explicar): uma ferramenta chamada blog! O Faça é o terceiro resultado na busca do google. Nem testei o MSN Search! Como o site oficial estava fora do ar, choveram comentários: 1. querendo assinar o manifesto; 2. reclamando que o site estava fora do ar… No início, respondi os primeiros e ignorei as resmungança generalizada e fiz um update explicando a história. (Pecado grave que toma tempo depois, nunca cometa).
Quando vi que o clamor continuava por duas semanas (houve repeteco no domingo seguinte, quando um santo comentarista avisou a causa da enxurrada) e o site continuava off, entrei em contato com o responsável, que me garantiu, depois de dois dias, que estava trocando de servidor por conta do overload. A questão foi cuidada com updates, na tentativa de ajudar os “perdidos na web”. [fecha o gigantesco parênteses, um instantâneo do que acontece nos bastidores dos comentários]
Pois bem, seu Renato. Muito bem, seu Norberto. Me digam: qual é a relevância do Faça na “blogosfera brasileira”? (PR 1 em medição não confiável da barra do google; technorati 209; blogblogs nem está cadastrado, salvo engano meu; não sei quantos assinantes; mil/visitas dias, na última checagem). Para mim e para os que o escrevem, claro, muita. Para os verdes, alguma. Para os mais de 200 leitores que se dignaram a deixar comentários – sem contar os passantes – toda.
Reparem: o Google foi o grande provedor de relevância, via TV. Às vezes é um grande portal. Em outras, uma matéria. Não os nossos movimentos – sejam eles coordenados ou não. Nem os hypes. Nem as nossas umbiguísticas discussões. O fato de termos virado “mídia social” e estarmos sob os holofotes da grande mídia e de agências especializadas não quer dizer xongas, xonguitas. As lições que vierem – ou não – da experiência é que vão definir os rumos, como cada um cresce, se desenvolve. Quem vai dar a chancela da relevância, neste instante, é mais importante. Cá entre nós, será alguém de fora da roda.
Sobre as ações práticas, Norberto, a mudança é lenta. E o simples fato do pensamento existir na rede já faz diferença. Quem verá? Quem conseguir achar, tiver tempo, paciência e expertise para fuçar em blogrolls gigantescos como o meu. Um exemplinho rápido sobre uso da rede: nem todo mundo usa abas igualmente. Estou cansada de ver pessoa (no Firefox) fechar a janela em vez da aba, abrir aba (configurada para segundo plano) e não encontrar onde abriu, clicar de novo…
Ação concreta é colocar estes caras atrás dos computadores, com acesso a uma banda decente e deixá-los navegar, descobrir. Já está aí, de alguma forma. O Brasil vendeu um computador a cada 21 minutos no último trimestre (e caiu, tá?) já já o mercado será gigante, o bolo publicitário vai crescer e tudo mudará? Dificilmente. A publicidade quer ROI e para conseguir isso, os blogs vão ter que ralar. Redes, modelos de negócio, inovação, investimento – vamos precisar falar de tudo isso, fazer experiências de produção diferente, buscar o nosso jeito de fazer.
Deste ponto de vista, ação concreta é colocar o conteúdo no ar. E bancar, com este ato quase indolor, que algumas almas desgarradas serão capazes de criticar matérias, posts, vídeos e fotos (para quem lê inglês, veja os comentários). Outra ação concreta é a Blog-se do Edney, a Feed-se.
A gente fica tão cercado das nossas nerdices (eu adoro!), que esquece que elas são absolutamente inócuas para o resto do mundo, esquece de olhar pros nossos leitores. Sim, a grande maioria vem com IEca (se não vem teu público é de colegas, another donut for you). E, sim, cada vez mais o hábito do internauta é ter o Oráculo como página principal de navegação e perguntar o que quer – o que resulta em altíssimos ganhos para uns poucos.
Então, quem define relevância? Pode ser o santo algoritmo criado pela dupla “Cerebro e do PInk de Stanford”. Ou o poder de fogo do portal onde o blogueiro/blog está. Ou a “velha mídia”. Ou uma ação de “guerrilha” ou “viral” que funcionou. Eu sei do fundo de mim, que na maioria das vezes é tudo mesmo tempo agora. Afinal, estamos numa teia complexa, cheia de referências, em que tudo muda a cada instante.
Pouco me importa a relevância. Me importa estar numa rede capaz de produzir diferença. Como? Posts nunca dantes imaginados, pesquisas bem-feitas (sim, vale tudo, desde que seja bem apurado, o que não é pra qualquer um). O que me fez apaixonar pelo Dinheirama? Um post onde o Navarro demonstrava por x+y que comprar carro era um péssimo investimento para o nosso rico dinheirinho. O jeito único e o carinho da Fal em publicar a foto dos gatos do Castelo, em um tempo que parece ser outro milênio. A delicadeza, crítica, descontração e inteligência da Zel. A escrita perfeita e cuidada da Lu Monte – usada para ótimas dicas. A perseverança e criatividade do Manoel Netto na Blogagem 24 Horas (ok, Celso, você também estava lá). Posso passar dias falando das qualidades de cada um dos 225 blogs/sites que estão no meu Google Reader… sem falar no agregador de podcasts. [update] O HnC me ganhou com seus especiais e uma assessoria pessoalizada que encheu meu estômago de alegria [/update]
Quero ver um grupo de blogueiros – ou um só mesmo, tudo bem – chegar num evento ou coletiva e fazer perguntas pertinentes, mostrar que se preparou para o encontro, conseguir as respostas únicas, que ninguém mais tem, como o Gui Felitti ou o Nick Ellis. Quero ver meus pares descobrirem como se fazem críticas sem perder a ternura e mantendo a amizade (aulas com professor Markun). Cada um se definir como quem é, sem medo de ser aceito e rejeitado – afinal, unanimidades tendem à burrice.
Meu sonho pessoal nunca foi relevância. Quero é conquistar à primeira olhada. E manter montanhas de fiéis leitores aqui comigo. Relevância? É outro nome para a velha e boa Miss Cangaíba! Prefiro a conquista. É difícil, mas muito mais divertida!