Tudo começou quando Kathy Sierra, do ótimo Creating Passionate Users começou a ser ameaçada. Não apenas em seu blog, mas em outros blogs. A moça colocou as barbas de molho, cuidou de si, se trancou – e as ameaças seguiram, feias, sujas e malvadas. Porque o mal, vocês sabem, nunca tem limites.
Em vista disso, Tim O’Reilly, que forjou o termo web 2.0, pinçou as ações e criou um rascunho de um código de conduta de blogueiros (clique com cuidado, está em inglês), com selinho e tudo, tanto para os bonzinhos (civilidade forçada) quanto para os “infratores” (vale tudo). Foi o que bastou.
A rebelião está à solta no mundo digital. Claro que temos um viés fortemente anarquista, automaticamente voltado CONTRA códigos. Óbvio que muitos furam bloqueios, detestam sistemas proprietários, brigam com a indústria. Um código? Em que termos?
Nospheratt fez um post enorme e bacana analisando ponto por ponto. E uma tradução bacanérrima que vou usar aqui:
1 – Nós assumimos responsabilidade por nossas próprias palavras e pelos comentários que permitimos em nosso blog.
Ok, isso é o que realmente é. Quem assina o blog é responsável por ele.
Temos um compromisso com o standard “Civility Enforced” (civilidade forçada): não postaremos conteúdo inaceitável, e deletaremos os comentários que o contenham.
Definimos conteúdo inaceitável como qualquer coisa incluída ou linkada (no post) que:
– esteja sendo usada para abusar, agredir, acossar ou ameaçar a outros;
– seja difamatório, sabidamente falso, ad-hominem, ou represente de forma deturpada outra pessoa;
– infringe algum copyright ou marca registrada;
– viola uma obrigação de confidencialidade;
Nós definimos e determinamos o que é “conteúdo inaceitável” caso por caso; e nossas definições não se limitam à esta lista.
Vale furo de reportagem no blog? Pode cobrir queda de torre, explosão de metrô, onda gigante? E o povo Mac-maníaco que fala mal da MS, cala a boca? Fala sério, meu bem. Como é que a gente vai se expressar, estabelecer conversas, discutir? Ficou chato, chato.
Se deletamos um comentário ou link, nós diremos que o fizemos e explicaremos porquê.
(Nos reservamos o direito de mudar estes standards em qualquer momento sem aviso).
É isso aí, neném. Você tira o spam de Viagra, de vote no Lula, etc, etc e conta o que tirou (ou seja, mantém o bicho no ar de outro jeito). Ser do mal aparece pra dizer bobagem em linguagem de baixo calão e você reescreve o xingamento. Ah, então, tá, então.
2 – Não diremos nada online, que não diríamos pessoalmente, cara à cara.
Contos eróticos, confissões e segredos: vocês estão banidos da blogosfera. O Pequenos Delitos, que adoro, vai sumir. Não, não, não. Isso não vale não.
3 – Nos conectamos privadamente, antes de responder publicamente.
Quando encontramos conflitos e representações distorcidas na blogosfera, fazemos todo o esforço possível para falar direta e privadamente com a(s) pessoa(s) envolvida(s) – ou encontramos um intermediário que possa fazê-lo – antes de publicar qualquer post ou comentário sobre o assunto.
A Nospheratt criou uma imagem que gosto: os Blog Rangers. Eles vão patrulhar absolutamente tudo o que é publicado e vão dizer o que pode e o que não pode. Rá rá rá.
4 – Quando acreditamos que alguém está atacando injustamente outra pessoa, nós tomamos providências – entramos em ação.
Quando alguém está publicando comentários ou posts ofensivos, nós lhe dizemos que está fazendo isso (se possível, privadamente – veja acima) e lhe pedimos que corrija seu erro publicamente.
Se os comentários publicados podem ser considerados como ameaça, e o responsável por eles não os retira da web e pede desculpas, nós cooperaremos com a força da lei para proteger o alvo da ameaça.
Tudo isso diz respeito ao caso da Kathy. Ok, ela tem direito à proteção de sua santa pessoa. Caracas, o que mais cresce no planeta é o número de blogs. São fontes de informação fundamentais em países onde a liberdade de imprensa não é lá estas coisas (Paquistão e Egito são dois exemplos instantâneos). São formas de expressão que permite encontros, conversas e trocas. Uma grande maldade e matam-se todos? Exagero pouco é bobagem, heim Orreili?
5 – Não aceitamos comentários anônimos.
Requerimos que um endereço de email válido seja provisto pelos visitantes, para que possam comentar, apesar de que permitimos aos comentaristas que se identifiquem com um pseudônimo/nick, em lugar de seu nome verdadeiro.
Este vai ficar famoso pela idiotice. Parece o irmão gêmeo do ser humano, GWBush. Criar uma conta de emeio válida leva exatos five secs, brother. Qualquer um faz, é facinho, facinho. Já já vão proibir os blogueiros com pseudônimos. Te cuida Nospheratt, olha pra trás Homem de Pedra.
6 – Nós ignoramos os Trolls.
Preferimos não reponder comentários agressivos ou desagradáveis sobre nós ou nosso blog, sempre e quando eles não sejam abusivos ou difamatórios. Nós acreditamos que alimentar os trolls simplesmente os encoraja – “Nuca lute com um porco. Os dois se sujam, mas o porco gosta disso”. Ignorar ataques públicos geralmente é a melhor maneira de contê-los.
Nós também decidimos que precisávamos de um selo “qualquer coisa vale” para os sites que desejam avisar os possíveis comentaristas de que eles estão entrando em uma zona onde “vale tudo”. O texto para acompanhar o selo poderia ser algo assim:
Este é um fórum aberto e sem censura. Não nos responsabilizamos pelos comentários de ninguém, e quando as discussões esquentam, linguagem de baixo calão, insultos e outros tipos de comentários desagradáveis podem ser encontrados. Participe neste site por sua própria conta e risco.
Ridículo, ridículo, ridículo. Defendo até o fim da vida e de toda a minha energia o direito de todos os blogueiros existirem, por mais que ODEIE o conteúdo que produzam.
Aqui no Ladybug Brasil, para informação dos navegantes, vale tudo, sim: arte, música, dicas, muita informação sobre internet. Vale ficar feliz, de luto pelo Vinícius, brigar para colocar um portal no ar, ajudar amigos a colocar seus projetos no mundo, dar links, ganhar links. Aqui vale conversar, viu tio?
E se um dia eu ficar famosa como a Kathy e for ameaçada, tu serás o último que vou chamar. Afinal, aí nos States vocês resolveram abrir mão da liberdade por qualquer troquinho. Deve ser por isso que tem trolls à solta na web (e vocês são gigantes no mercado, né?) nas ruas e até nas escolas. Estão demorando muito para chipar todo mundo e definir padrões de comportamento aceitável, viu?
Esta conversa de código deu o que falar em três listas de que participo: blogosfera, radinho e Jornalistas da Web. Está à solta por aí. Na busca do Technorati voltam mais de mil links sobre o assunto. Em português também volta bastante.
Outros textos sobre o “código”:
Ilo Navarro: O’Reilly é um engodo
TecBit
Superfície Reflexiva
Tiago Dória Weblog (tem a foto da Kathy que não está no ar no Passionate Users)
Uma Dama Não Comenta
O link do Spacca pro velho Henfil explica a doideira. Santa Mistura in Blogando por Dinheiro.