Vocês já sabem do seminário de Mary Swart. Compareci de videomaker (já já trechinhos via YouTube) e não tive como escrever nada… Então pedi à linda da Maria Lígia Conti, uma lutadora jornalista, que faz a Revista Pais, em Sorocaba (interior de São Paulo) para escrever um texto. A nossa idéia é comemorar o dia das mulheres resgatando o que há de melhor em nós: a capacidade de trazer à luz uma criança!
Com vocês, Maria Lígia Conti e um trecho do seu especial sobre Gestação e Parto para a Revista Pais, de Sorocaba.
Nascer é normal
Fazemos parte de uma linhagem. Transmitimos, de geração a geração, toda uma bagagem de tradições e costumes, crenças e modelos, passamos para nossos filhos aquilo que aprendemos com nossos pais. Somos, portanto, especialmente as mães, o primeiro modelo de nossos filhos, que nos copiarão e passarão o modelo adiante.
Faz-se então absolutamente necessário que perguntemos a nós mesmas: O que queremos ensinar a nossos filhos? Que aspectos culturais queremos transmitir a eles?
E tudo começa na comunidade. Como a nossa comunidade vê a mulher?
Como bonecas? Objetos? Entregadoras de produtos com qualidade testada e aprovada previamente (em forma de bebês sadios)?
O que vemos como normalidade, dentro do assunto parto e nascimento?
Com essa pergunta Mary Zwart, parteira holandesa, iniciou seu seminário intitulado Humanização do Parto – a democratização da vida, oferecido pela Associação Palas Athena, em São Paulo, no dia 28 de fevereiro deste ano.
Com uma boneca nas mãos, ela nos conduziu a uma avaliação inusitada. A bonequinha, modelo grávida, de pernas esguias, cabelos louros e olhos azuis, traz um filho na barriga, porém nada entre as pernas – como colocou Mary – a criança em seu ventre sairá por um abertura na barriga!
Como não pensamos nisso? Como não percebemos as mensagens que passamos a nossas crianças? Filhos não saem pela barriga! A menos, claro, que haja algum problema com a mãe ou o bebê.
O que é um parto natural?
Normal é o que acontece normalmente. Se a maioria dos nascimentos forem cesarianas, o normal passa a ser a cesariana. Passamos a entender alguma coisa como o normal, por força do hábito, do comum. Porém, é importante que ampliemos nossos horizontes, que vejamos além da curtina de nosso quartos. Na Holanda, por exemplo, 85% das mulheres têm seus filhos nascidos “naturalmente”, 70% delas não fazem uma única visita a um médico durante todo o seu período de gestação e 30% dessas têm seus filhos em casa. Isso não significa rebeldia ou ignorância, nem pouco caso com o futuro dos bebês ou pessoal. A questão é simples. Por lá, a gravidez não é uma doença, portanto não exige o envolvimento de um médico, a menos que haja alguma complicação, quando então o médico, o curador, será necessário. Também é importante registrar que as parteiras na Holanda passam por um período de 4 anos de estudos em obstetrícia. No Brasil já temos, desde 2005, o primeiro curso de graduação em enfermagem obstétrica, na USP Leste/SP, com duração de 4 anos.
Assumindo o poder
Mulheres holandesas fazem questão de ser senhoras de seu destino. Elas indagam, questionam, informam-se, fazem opções e decidem, assumindo suas responsabilidades e o poder que lhes cabe na comunidade. Nós, brasileiras, temos um longo caminho a percorrer antes de chegarmos ao modelo oferecido por aquela sociedade que tem o menor índice de aborto no mundo, a mais alta taxa de contracepção e a mais baixa taxa de adolescentes grávidas (a média de idade das mulheres grávidas é de 29 anos). Um país onde a adolescente que engravida recebe apoio da família e da sociedade, continuando seus estudos e dando prosseguimento a seus sonhos. Um país onde o dinheiro do cidadão é investido onde ele entende que deve ser investido, sendo que, ao invés de gastá-lo em cirurgias desnecessárias e perigosas, a mulher investe em quem possa ajudá-a nos serviços da casa, depois do nascimento do bebê, no apoio ao aleitamento, no seu ninho e suas necessidades.