E por falar em lixo, você já pensou que para dar conta do que a gente produz existe um trabalhador? Seja o lixeiro, o catador do lixão ou o que ajuda a reciclar o pouco que separamos, eles estão lá, literalmente sobrevivendo do lixo. Confesso que, ao ler o estudo dos pesquisadores Gemelle Oliveira Santos e Luiz Fernando Ferreira da Silva, do departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará, lembrei do lindo Estamira (2004) e do mais recente Lixo Extraordinário (2010).
Os dois identificaram as impressões e como é o dia a dia dos trabalhadores do lixo. O estudo foi feito através de consulta a documentos, observação do local de trabalho (lixão de Jangurussu) e entrevista com oito catadores de lixo de Fortaleza (CE). Os participantes, garis e catadores de material reciclável da própria cidade, tinham ente 19 e 31 anos.
Os resultados da pesquisa mostram que os trabalhadores tendem a encarar o lixo como sinônimo de perigo e também como sustento. A maioria dos entrevistados teme adquirir problemas de saúde por conta do contato com o lixo e se considera em perigo a todo momento. A parcela feminina dos entrevistados, dizem os pesquisadores no artigo, mostrou-se mais preocupada com os riscos que os resíduos sólidos podem apresentar à saúde.
A pesquisa revelou também que, apesar da visão negativa que os catadores possuem do lixo, 75% dos entrevistados alegaram estar satisfeitos com sua atividade profissional. Para eles, o trabalho com o lixo é encarado como um ato de sobrevivência e fonte de renda familiar.
O estudo revelou que os participantes permanecem nessa atividade devido à dificuldade de inserção no mercado de trabalho, por conta da baixa escolaridade ou da falta de oportunidade.
O depoimento de um entrevistado, citado no artigo, mostra o pensamento predominante entre os participantes: “…nois num samo malgrado por ter um emprego, mas a gente tem que trabalhar, a gente veve daqui, tem que sustentar os filhos, veve daqui, tem que ir, num tem uma outra opção porque nois num tem muito estudo a num ser trabalhar com isso…”.
Para os autores, os catadores de lixo se sentem desvalorizados. “Os trabalhadores da coleta formal do lixo em Fortaleza e os que trabalham na usina de triagem de materiais recicláveis estão desenvolvendo suas atividades por questões nitidamente de sobrevivência e se sentem desvalorizados e envergonhados socialmente pelo fato de trabalharem com o lixo”, afirmam os autores.
Quase dá vontade de soltar um “duh” ao terminar a leitura. Só que… aí a gente lembra o quanto não valoriza estas pessoas, que são responsáveis pelo pouco que realmente é feito para resolver a questão do lixo no Brasil. 🙁
imagem: Olhar Social, CC-BY-NC-SA