Vou começar com a tristeza: Zezão morreu. José Roberto Alencar foi uma inspiração para mim na atitude provocativa, na maneira de lutar – e, confesso, de tentar encantar. Homem comprido e magro, inteligente. Viveu uma vida boa e de muita luta. Marcou seu nome no jornalismo brasileiro em matérias impagáveis que começam antes da minha meninice e terminaram ontem, às 22 horas.
Este foi o último e-mail dele, que mostra seu texto magnífico e seu humor fino e perfeito.
“Para não provocar preocupações (infelizmente inúteis) em quem gosta de mim, nem alegrias (que se revelariam precipitadas) em quem não gosta, não falei com ninguém da cirurgia.
Claro que os mais xeretas descobriram. Agora, de volta à vida, espalho — até por necessidade de explicar meu sumiço real e virtual desde o dia 23 de abril.
A caca se chamava aneurisma da aorta abdominal. Onde podia ter no máximo quatro centímetros de diâmetro, a abdominável aorta estava com oito e ameaçava explodir.
Foram cinco horas e meia no Centro Cirúrgico do Nove de Julho em São Paulo, seguidos de dois dias na UTI, sete na Ala e outros tantos na casa da minha prima em São Paulo.
Ainda dói, ainda apelo para o Oxigênio, ainda não consigo trabalhar, mas ao menos já estou de novo em Casa, em Poços de Caldas, e na próxima sexta pretendo estar na USP, cumprindo minha pauta ao lado do Marcelo Beraba, no Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
desculpem o mau jeito.
zé alencar”
De volta ao oceano da vida, José Roberto Alencar, Zé, aquele que me ensinou a dirigir na estrada, nas curvas entre Belo Horizonte e Ouro Preto e que deixa, para sorte de quem teve a oportunidade de com ele conviver, milhares de histórias para lá de bem contadas.