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17
mar
2007

insensíveis humanos/tá lá o corpo estendido no chão

Hoje de manhã vi a morte na calçada, escondida sob a lona azul, escoltada por duas viaturas da Polícia Militar. O mendigo, que sempre dormia sob a marquise, devidamente acompanhado por seu cachorro, morreu ao nascer do dia. Na hora que saí do prédio, vi seu cachorro de guarda. Rezei pela alma do pobre, fui à padaria preocupada com o cachorro.
Na volta, a notícia: tiveram de chamar uma veterinária e sedar o cão para poder mexer no corpo. Leal até depois da morte. O cachorro será doado, diz o zelador do prédio. O mendigo fez seu último show – ficou sob a lona azul até meio-dia.
O mesmo zelador que deu notícia do cachorro explicou que chamou resgate e polícia durante a madrugada. Ninguém apareceu para atender o pobre! Resta uma foto, solene despedida de mais um brasileiro que será enterrado na vala comum, por falta de atendimento. Até quando continuaremos a caminhar sem dar a menor importância, sem gritar com as autoridades, sem fazer valer os nossos direitos? Até quando? Será que vale uma única voz? A joaninha está triste, muito triste.

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