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11
mar
2009

Homens e a ecologia

Tô atrasada num desafio proposto pelo Afonso: escrever sobre a diferença de gênero no cuidado com o meio ambiente em pleno dia da mulher. Era para este post ter sido publicado no dia 8 de março. A canseira da organização do LuluzinhaCamp mais uma segunda-feira povoada de compromissos na rua me impediram de publicá-lo.

Afonso, homem culto, atendeu à sincronicidade e foi na linha da cultura – aludindo até a minha deusa grega favorita Deméter, a Terra, e o surgimento do ciclo do outono e do inverno, devido ao rapto de sua amada filha Perséfone. Texto maravilhoso, inclusive. Uma ode ao feminino e à natureza.

A lembrança de Deméter me trouxe Erisícton, descrito por Thomas Bulfinch em O Livro de Ouro da Mitologia.

Erisícton era um homem grosseiro, que desprezava os deuses. Certa ocasião, resolveu profanar um bosque consagrado a Ceres (Deméter) com o seu machado. Ali havia um venerável carvalho, tão grande que dava a impressão de ser uma floresta inteira. Em seu velho tronco, frequentemente eram colocadas guirlandas votivas e entalhadas inscrições de gratidão à ninfa da árvore. Muitas vezes as dríades dançavam em torno deste mesmo carvalho. Insensível aos fatos, o homem Erisichton tomou o machado de seus servos e, no primeiro golpe, a árvore verteu sangue. Um dos presentes impediu-o de golpear a árvore novamente e foi morto a machadadas. Nesta hora, a ninfa de Ceres que habitava a árvore avisou: Eu que moro nesta árvore sou uma ninfa amada de Ceres e, morrendo por tuas mãos, predigo o castigo que te aguarda.

Erisícton não desistiu e, afinal, a árvore caiu com estrondo e esmagou sob seu peso grande parte do bosque.

As dríades, ultrajadas, foram a Ceres, vestidas de luto e pediram que Erisícton fosse castigado. Ao curvar a cabeça, concedendo o pedido, as espigas maduras para a colheita também se inclinaram. Imaginou o castigo mais cruel de todos: entregar o malvado à Fome. Como a própria Ceres não podia aproximar-se da Fome, chamou uma Oréade e falou:

Na parte mais longínqua da Cítia, moram o Frio, o Medo, o Tremor e a Fome. Vai até lá e pede à Fome que se aposse das entranhas de Erisícton. Que a abundância não a vença, nem o poder de meus dons a afaste. Toma meu carro e vai.

A Fome obedeceu às ordens de Ceres e rapidamente chegou ao quarto do criminoso, que dormia. Envolveu-o e penetrou seu corpo pela respiração, destilando veneno em suas veias. Missão cumprida, retirou-se da terra da fartura e voltou à sua desolação costumeira. No sonho, Erisícton ansiava por alimentos e movia a mandíbula, como se estivesse comendo. Ao acordar, a fome o devorava. A todo momento queria ter iguarias de toda espécie e, mesmo quando comia, ainda sentia fome. Não lhe bastava o que teria sido bastante para uma cidade ou nação. E quanto mais comia, maior era a sua fome. Seus bens diminuíram rapidamente face ao seu apetite, mas a fome jamais era saciada. No final, restou-lhe apenas uma filha, uma filha que merecia um pai melhor. Vendeu-a também. Desesperada de ser escrava, a jovem, de pé junto ao mar, ergueu os braços numa prece a Netuno. O deus ouviu suas súplicas e, embora seu novo senhor não estivesse longe e a visse um momento antes, Netuno a transformou em um pescador.

Procurando-a e vendo-a sob a nova forma, seu dono perguntou-lhe:

– Bom pescador, onde foi a donzela que via agora mesmo, com cabelos despenteados e pobremente vestida, no lugar em que estás?

A jovem, esperta, percebeu que sua prece fora atendida e respondeu:

– Perdoa-me estrangeiro, mas estava tão ocupado com meu caniço e minha linha que nada vi. Possa eu contudo jamais pescar outro peixe se acredito que esteve por aqui, ainda há pouco, alguma mulher ou outra pessoa qualquer.

O homem tomou seu caminho, pensando que a escrava fugira. Ela, então, reassumiu a sua forma. Seu pai ficou satisfeitíssimo ao vê-la ainda consigo, juntamente com o dinheiro resultante de sua venda e tratou de vendê-la de novo. A jovem, contudo, graças a Netuno, transformou-se tantas vezes quanto as que fora vendida. Ora em cavalo, ora em ave, ora em um boi, ora em um cervo. Assim, o pai faminto conseguiu alimento, nunca o suficiente, até que a fome o obrigou a devorar a si mesmo e destruir-se. E a morte o libertou da vingança de Ceres.

Digitar este tanto de texto que eu já conhecia (resumi a história) traz muitas imagens sobre a relação dos homens com a ecologia.

Grosseria, insatisfação eterna e consumo abusivo são marcas não só dos homens, mas de nossa civilização, neste planeta. E, ao reler este mito, percebe-se claramente que os homens – que governam as nações deste planeta há tanto tempo – podem, sim, vestir a carapuça. Eu, de minha parte, tenho o prazer de conviver com homens anti-Erisicton, que fazem sua parte todos os dias e lutam para que o planeta continue vivo e pleno.

Agora quero ouvir vocês (já que o Dia da Água está perto, muito perto): qual é a diferença entre homens e mulheres no CUIDADO com o meio ambiente e o planeta? Entrem na roda.

Imagem: Earth and Man, por giletti no Flickr em CC

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ecologia, web/blogosfera

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