Inacreditável. O primeiro gol veio com a atrapalhação – e a impressão de 11 homens impotentes em campo. 11 representantes de 200 milhões. Perdidos, sem líderes, sem recursos. Pessoas competentes, marcadas pela vida, cheias de experiência, talentos e habilidades. À mercê de muitos anos de preparação, da eficiência alemã em treinar, formar time, fazer junto, ser excelente.
O NYT descreve o time alemão assim: Os alemães foram implacáveis, jogaram com graça, unidade, um poder puro que fez com que atravessassem as defesas brasileiras como se fosse faca quente na manteiga. Entre 11 e 23 minutos, dois gols, perda de recordes (agora o artilheiro de todas as copas é o Klose) e um desgosto do tamanho do país.
Nos outros seis minutos do primeiro tempo, veio o inimaginável. Perder de 2 a zero, naquelas condições, seria lindo. É muito fácil dizer isso hoje. Também é simples ver que, graças à nossa habilidade infantil de nos distrair das nossas feridas com festa, briga ou explosões, será muito difícil aprender.
Somos o povo admirado em todo o mundo por nossa habilidade de criar, por sua capacidade de superar as dificuldades. Temos preparo para isso: o transporte público ineficiente, as escolas mal equipadas (de gente e equipamentos), a burocracia onipresente que emperra todo e qualquer funcionamento.
Depois de 100 anos como um país que é do futebol, perdemos.
Perdemos. E não foi um placar simples. SETE A UM. Gol, gol, gol, gol, gol (primeiro tempo). Gol, gol, gol. 45 do segundo tempo, Oscar fez gol. UFA. Faltava só a gente não conseguir marcar nenhum.
A imprensa brasileira, como nós, ficou em choque. Um país em choque. As reações violentas – tão típicas de crianças – pipocaram. Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro. Cada canto explodiu em raiva de seu jeito. Queimando ônibus, fazendo arrastão, brigando, ensurdecendo torcedor alemão…
Vergonha, vergonha, vergonha. Um país infantil (e já se vão mais de 500 anos de história) que se recusa a aprender com seus erros. David Luiz, gigante, enfrentou os microfones e disse: desculpem. Eu queria dar alegria ao meu povo. Entre lágrimas. Muitas lágrimas.
Enquanto Scolari assumia sua culpa, a copa da zoeira continuou seu curso. No twitter todas as piadas possíveis (e impossíveis) foram feitas. O NYT fecha a matéria com o seguinte: “Eles começaram o dia acreditando que seria um dia inesquecível, glorioso. Veio o trator alemão e um jogo que o país do futebol quer esquecer”. Foi difícil, ao fugir do noticiário nacional, dar de cara com o Richard Quest, na CNN, tirando sarro dos 5 a 0 (era reprise). Foi vergonhoso ver a reação nas ruas.
Agora a gente tem que sustentar o ritmo de festa – com outra semifinal hoje – apesar da vergonha, apesar da tristeza. E lembrar: perdemos. Perdemos a oportunidade de fazer mais infraestrutura que preste – não escolas e hospitais, mas transporte público. Perdemos o bonde da história. De novo.
Só posso esperar que, graças à derrota, venha a mudança. Que a gente aprenda, trabalhe firme (somos bons nisso), lembre sempre o péssimo gosto da derrota e trilhe o caminho da vitória. Para todos, não só pra quem foi escalado pro jogo.
E agora, vamos cantar a capella?
fotos: Jefferson Bernardes/Shutterstock