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25
set
2009

Escute o que as árvores contam

Ontem o Estadão publicou a notícia, na última página útil do caderno principal: houve queda no desmatamento da Amazônia. Só que, a conta que ninguém entrega – sempre fazem comparação de quanto caiu em relação ao ano passado – é: quanto nós perdemos de floresta? O que está no lugar da floresta? Para a gente, cercado de cimento e asfalto nas grandes cidades, estas são as grandes perguntas. Ou você acha que inverno cheio de chuva e temperaturas fora da curva são “tempo louco”? Tudo está ligado neste planeta.

Aí o Paulo Bicarato compartilhou comigo uma peça de encher os olhos, escrita pelo pai dele – que já foi publicada tanto pelo Marcelo como pelo Cacá e também pela Novae. Claro que consegui a permissão de compartilhar este texto maravilhoso e tocante com os meus leitores no Ladybug e na Rede Ecoblogs. Esta carta é uma bela resposta à pergunta de Al Gore: como a gente cria uma campanha para conscientizar as pessoas de seu impacto de forma clara? Taí, mister.

sucupira, foto de jjleandro no Overmundo

foto: jjleandro no Overmundo

Carta de duas Sucupiras

Eu e minha irmã devemos ter sido plantadas no mesmo dia. Digo isso porque temos mais ou menos o mesmo porte, mas não sabemos dizer se temos a mesma idade. Na verdade, nós só nos conhecemos quando já éramos grandinhas. Já enfeitamos a sede de uma fazenda que anos passados existiu por aqui. Fomos árvores frondosas, com nossos mais de quinze metros de altura. Demos muita sombra a quem subia ou descia por este trecho da velha Estrada da Colônia – acompanhamos a chegada dos primeiros colonos italianos que chegaram ao Vale do Paraíba, em Guaratinguetá.

Na época da floração, flores amarelas coloriam nossas copas e, ao caírem, forravam o chão, que antes era de terra batida e hoje é o negro do asfalto. Pássaros? Oh! quantos. É que não somos ornitólogas para saber dizer o nome de todos os que pousaram ou fizeram seus ninhos em nossos galhos, mas, de ouvir falar, temos certeza de que por aqui andaram sabiás e bem-te-vis, saíras e maritacas, pardais e sanhaços, pombas, rolas, coleiras, anus, bigodinhos, beija-flores… flores… flores… e por aí vai… Balouçados por brisas suaves ou fortes ventos, nossos galhos sopravam aragens pela redondeza, amenizando a canícula que costuma fazer por estas bandas. Com raízes profundas, troncos resistentes e galhos robustos, suportamos muitas tempestades.

Mas, infelizmente, já faz alguns meses, homens, tidos como seres inteligentes, usando um aparelho com inúmeros dentes afiados, e que ronca ensurdecedoramente, vieram aqui e reduziram-nos ao que hoje se pode ver de nós: dois troncos quase secos, que, na ânsia de ainda viver, lançam brotos raquíticos, numa verdadeira caricatura do que já fomos um dia…

O mais triste é que isso não aconteceu só conosco, não. De uns anos para cá, quando ainda éramos inteiras, volta e meia o vento sussurrava histórias parecidas com as nossas, como a de uma Mangueira monumental dali das cercanias da Obra Social N. Sra. da Glória, várias Sibipirunas daqui das redondezas, um Chapéu-de-sol e muitas outras, cujos corpos mutilados ainda estão por aí como testemunhas incontestes desse crime hediondo. Sem falar de uma linda Suinã que, pobrezinha, teve a sina de nascer debaixo de fios de eletricidade, e por isso é barbaramente podada toda vez que seus galhos ousam subir e ganhar um pouco mais de espaço.

Quando, ó homem, quando você vai descobrir que, a cada árvore que você derruba, você deixa mais pobre sua própria casa, este planeta que você habita?

Em tempo: Só resolvemos ditar esta carta porque hoje acordamos com os golpes de um machado tentando fazer a uma vizinha nossa, um belo e verde Cinamomo, o mesmo que fizeram conosco. Se você, amigo, ao ler esta carta, puder fazer algo, saiba que salvar a vida de uma árvore é contribuir para a sobrevivência do próprio homem neste planeta Terra.

Eu, Antonio Bicarato, certifico o dou fé que transcrevi esta carta tal qual a ouvi das

DUAS SUCUPIRAS

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Categorias:
ecologia, Rede Ecoblogs

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