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25
jun
2009

Disparos sobre a segurança pública

Já falei do Ponto Quarenta, do Roger Franchini, que me grudou logo no primeiro capítulo. Depois da resenha fiquei aqui amadurecendo algumas questões que tenho sobre a Segurança Pública no Brasil. São pontos de vista muito pessoais, baseados em coisas que vi e vivi – e que tive o prazer de compartilhar com o Roger.

Eu só tenho alguns poucos insights porque conheço pessoas tanto na Polícia Civil quanto na Federal, além de ser do tipo que fala até com poste e conversar com os PMs que circulam pelo meu bairro, eventualmente. Ninguém fala muito sobre seu trabalho, mas segurança pública é uma questão absolutamente fundamental para ser discutida. Em público, aberta e democraticamente. Não discuto a polícia em si. Na verdade não existe “a polícia”, existe? Temos a Guarda Municipal (é o nome aqui em S. Paulo, muda em outros cantos), a Civil, a Militar, a Federal… Mas estas “polícias” são apenas um pedaço de algo muito mais complexo e escorregadio.

Se a gente pensar que a nossa sociedade tende à imaturidade (no sentido de não assumir responsabilidade) e a olhar as coisas “de cima pra baixo” (o governo que resolva, isso não é problema meu) e a correr pros braços dos “bandidos” sem piscar – vai me dizer que esta montanha de seguranças que eu vejo aqui nos Jardins não são ou foram policiais? – talvez tenhamos uma visão de que segurança é um direito de todo mundo e, como tal, construída coletivamente.

Eu tenho alguns acontecimentos nada agradáveis na minha vida. Aos 22/23 um grupo de 4 menores entrou na casa da minha família, fez todo mundo de refém – até coronhada eu tomei… – e tudo terminou em… nada. Esta mesma casa foi assaltada/furtada umas 7 vezes. Eu mesma fui poucas vezes vítima (coisa rara em S. Paulo), o que credito ao meu tamanho (tenho 1,80m) e à atenção com que ando nas ruas. Sem falar que, depois dos 28, ao tomar um susto num sinal na Rui Barbosa, eu decidi que criança não manda em mim. As rezas da minha mãe devem funcinar, porque depois desta, nunca mais passei nenhum aperto com menores.

Há confusões gigantescas no Brasil. Mendigos e sem-teto, estes geradores de desconforto, lembretes de que a gente está ameaçado de exclusão a cada instante, são vistos como “bandidos”. O deputado/vereador/senador que rouba milhões é reeleito (vale para todos os outros cargos). O juiz, ah, o juiz… e os advogados? Eu já ouvi um, em pleno restaurante – lugar público, portanto, dizer: “Juiz a gente compra e pronto”.

Segurança pública é um sistema intrincado e gigantesco. Envolve do micro ao macro. E esta divisão PM x civil x municipal se presta a quê mesmo?

A minha conversa sobre segurança pública começa nos meus direitos e se fundamenta no sexto artigo da constituição. A segurança, de alguma forma que ainda não discriminei para mim mesma, está absolutamente ligada à liberdade (inclusive de expressão).

Não adianta nada a gente, “cidadão mortal” (mesmo, né?) ficar em casa, atrás de grades, das câmeras ou de PMs contratados nas horas de folga.

Para mim, a história da segurança pública é igualzinha à do meio ambiente: ou todo mundo cuida junto ou todo mundo se ferra junto. Acho uma enorme idiotice a gente virar as costas ao que acontece dentro das Delegacias, Presídios, Fóruns e ficar só no fala-fala de sempre. Esta história vai dar trabalho. Trabalho de educação, de construção de pontes (afinal, não são corporações transparentes e nem vão querer ser), de política. Eu acredito em micropolítica, que pequenas mudanças podem causar grandes deslocamentos. E acho, sinceramente, que aqui no digital a gente pode construir uma conversa muito bacana.

Até porque a questão da segurança se liga a outras: preconceito, questões de gênero, cidadania em geral.

Outro lado – O Roger, do Cult Cool Freak conta:

Suas preocupações são muito parecidas com as daqueles que se preocupam com o futuro de nossa sociedade. Você mostra muita sensibilidade em analisar essa realidade, sem nunca ter participado da ética policial. Ética esta, diga-se de passagem, canhestra e que só se aplica na relação policial-bandido. É preciso ultrapassar a linha da legalidade e sujar as mãos com o ilícito para manter as ruas limpas, como quer todo mundo. Todavia, o “todo mundo” não desejar mudar as diretrizes políticas do governo estadual. A estrutura da polícia civil é arcaica, e todos os seus cargos são políticos, por indicação. Quem se revolta contra isso é colocado de lado, no pior cargo da polícia: atender o público nos distritos policiais.

Os bons preferem calar a ter que mentir e viver as glórias da hipocrisia. Garanto a você que só consegue ir para os melhores lugares da polícia (DHPP, DENARC e outros) quem se adequa à ideologia de quem detém o poder político naqueles instantes. E isso não mudará. Porque não há pessoas que desejam isso. Há um ou outro aqui que deseja ser policial pelo mérito, e não pelas costas e influência quentes que podem angariar. A sociedade somente sofre com isso quando algum crime muito grave lhes atingem e respinga na mídia. Se não, pouco conta nas estatísticas.

O bom é saber que pessoas como você se interessam por essa discussão. Isso me deixa mais feliz, porque sei que ainda há esperança em alguns setores. Espero, sinceramente, que esses indivíduos se unam no objetivo de mudar politicamente alguma coisa. Porque se não for pela política, nada será alterado. Falar, falar, falar e falar nos deixa menos culpados, mas não resolve nada. E eu já não me sinto menos culpado por só falar. Precisei registrar em um livro o que sentia, para que isso se espalhe.

Alguns links para pensar:

Mídia e violência: dica do Roger…

Silvio Meira falando de como usar a internet para criar paz

Sim, além de sumir com o ODEREZA do mapa, eu quero segurança, quero que as pessoas possam falar ao celular, ter carros bacanas, andar à noite sem medo. Que elas acreditem que estão seguras nos ônibus, no metrô, no trem. São desejos que sei que preciso plantar para o futuro. E eu intuo que existem pessoas, neste mundo digital, que também se importam. A vida importa. Porra!

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