Sábado, nem 10 horas da manhã. Chego ao caderno de economia e vejo, na página 2, um artigo de meu antigo professor (hoje político) César Callegari. Quanto custa a boa educação? Segundo Callegari, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, o Brasil gasta hoje – entre as verbas federais, estaduais e municipais, R$ 100 milhões por ano com os alunos da rede básica (dados de 2007, do Ministério de Educação). São 50 milhões de alunos no Fundamental I (mais conhecido entre velhinhos como primário). Fiz contas atravessadas. O artigo diz que nossos “vizinhos” México, Chile e Argentina gastam R$ 4 mil/ano em cada aluno – um total de R$ 200 bilhões.
Aqui gastamos R$ 100 bilhões – 2 mil/ano por ano – e ficamos absolutamente dependentes da boa vontade dos recebedores dos recursos para que este dinheiro seja bem investido. Se o Brasil – que ganhou Olimpíadas e guerra no Rio de Janeiro – dobrar os investimentos nos seus alunos, o futuro da nação, vai dizer que eles valem 7,5% do PIB…
Será que isso resolve? Os dados de 2007 mostram que apenas 23% dos alunos no fim do primeiro ciclo (o primário, fundamental I, whatever) têm nível adequado de aprendizagem de matemática. UH! 87% da criançada não sabe fazer as operações básicas (que é a tarefa da fase)? Não é surpresa que a gente tenha tantos problemas de desemprego entre os jovens…
Para evitar tudo isso, a estrutura burocrática à qual o sr. Callegari pertence hoje propõe o conceito de custo aluno qualidade inicial (CAQi). Ainda em discussão, a sigla quer estabelecer padrões mínimos para uma educação de qualidade, relacionando os fatores dos quais ela depende e quanto custa fazê-la bem feita.
Salario de professores, número de alunos por classe, custo do m2 de construção e demais insumos básicos para uma educação de qualidade… O CAQi resolve? Callegari e seu colega Mozart Neves Ramos, sabem que não. Básico mesmo é ter bons educadores. O Brasil tem a sua cota de ótimos pensadores, como Paulo Freire, mas carece obviamente, de uma carreira decente para seus educadores. Sem isso, podem dar quantos CAQis quiserem para os diretores das escolas que nada andará, saibam.
Eu voto pela educação pública de qualidade. Exatamente porque fui privilegiada e estudei a vida toda (com sacrificio dos meus pais) numa das melhores escolas particulares de S. Paulo. Foi ótimo ter a cabeça formada por grandes professores de universidade, como Flávio di Giorgi, um homem que falava 12 línguas e nos ensinou a brincar com filosofia, radicais gregos e latinos e não estava nem aí para as nossas avaliações (pelo menos era o que a gente achava)…
O resultado da educação caríssima que recebi é claro: sou curiosa, tenho bases firmes para seguir aprendendo. Com a internet nas mãos, hoje posso aprender o que quiser – de como implantar novas ferramentas nos blogs/sites a novas línguas, em geral de graça e, no meio do caminho em geral ajudando outros a aprender comigo.
Isso não é só resultado da escola. É fruto de pais atentos; uma casa cheia de livros; uma família que ensinou que estudar é delícia e descoberta. Tudo bem, ler Hobsbawn na 7ª série talvez tenha contribuido. Mas isso só vale, de qualquer forma, se o ser humano sair do fundamental sabendo ler e fazer contas – e até entrar na faculdade eu fazia contas de molaridade de cabeça…
Ao longo da vida conheci pessoas com outras histórias – e parecidas comigo. Gente que mal terminou o primário e aprendeu o resto sozinha – e, autoditata, ganha muito mais que muito pós-doutor. Da minha mesma família saiu um irmão que odeia escola formal mas sabe tudo o que deseja – aprendeu sistemas operacionais no meu primeiro 386 e de lá para cá só fez melhorar suas habilidades.
Escola é bem público, um direito de todos. Embora o Brasil tenha avançado muito na última década, precisamos nos livrar de diretores de escola que escondem os livros que chegam do governo federal (esta eu vi); de professores que faltam sem dó nem piedade (muitas vezes porque estão exaustos); da falta de respeito e segurança dentro das escolas.
Afinal, como diz assinatura do Charles Pilger (também citada no artigo publicado no tal jornal)
frase atribuida a Derek Bok
foto: Anschool II, por identity chris is, flickr em CC