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28
nov
2008

Claro Curtas – Os debates

clarocurtasCoordenados por Marcelo Tas, os debates do Festival Claro Curtas foram divididos em duas sessões, uma quarta à noite e outra quinta de manhã. Foi o momento para assistir a todos os vídeos finalistas já com o trabalho realizado durante o workshop na Casablanca – tradução para LIBRAS, audiodescrição e legendas.

Os curtas finalistas foram divididos em quatro categorias: inclusão, cinema social, acessibilidade e diversidade. Além dos jurados – José Padilha, Stephen Hopkins, Breno Silveira e Sérgio Sá Leitão – a organização do Festival convidou especialistas para conversar: Ángel Garcia Crespo (especialista espanhol em audiodescrição), Isabel Aparecida dos Santos Mayer, especialista em Pedagogia Social pela Universidade Salesiana de Roma, e coordenadora de Educação do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (SP) e André Fischer, colunista da Folha de S. Paulo, um dos organizadores da Parada do Orgulho Gay e do Festival Mix Brasil.

Quarta à noite: inclusão e cinema social

Dividido em quatro blocos, o debate deixou claro para a platéia a importância de usar recursos que dêem acesso universal às obras audiovisuais. E a liberdade de expressão que as novas tecnologias permitem.

Tudo começou com Ángel e Hopkins. Hopkins exibiu um curta, I am Digital (premiado no British Academy Award), feito no celular, com estrutura profissional e falou da liberdade e facilidade de produzir com as novas tecnologias: um celular, um notebook e algum conhecimento bastam para fazer um bom trabalho. Segundo Hopkins, a tela pequena exige muita atenção – ele comparou o processo à produção para TV, que hoje já não faz tanta diferença por conta das wide screens.

(bah, eu tentei embedar, mas fica no automático e isso é horrível. Tentei o embed que a djmisscloud mandou. Nah, também não foi. continuamos no link aí em cima)

Ángel explicou a audiodescrição, técnica que permite aos deficientes visuais entender o que acontece na tela. Na Espanha 5% da população tem esta necessidade – e fazer a audiodescrição permite que tenham acesso à produção audiovisual. “É preciso lembrar de quem é diferente e garantir o acesso à obra”, explicou, enfatizando a necessidade de tradução em língua dos sinais (que é local para cada país), da audiodescrição e da legendagem.

Você não sabe o que é audiodescrição? É uma breve sinopse feita especialmente para explicar as imagens e o ambiente que é transmitido sem palavras. Segundo Ángel, o importante é fazê-la sem aumentar um único segundo no filme.

A seguir, houve a exibição dos cinco curtas da categoria inclusão: Sou, Fuga para Palmares, João Torrão, Lápis e Particulas Elementares.

José Padilha e Isabel dos Santos Mayer seguiram destrinchando o tema inclusão. “É uma satisfação receber uma produção tão grande de imagens sobre inclusão, sem o tom pedagógico. Inclusão é articular humanidade, diversidade e identidade – somos todos iguais, humanos; somos uns diferentes dos outros, enquanto iguais entre alguns e temos singularidades que nos fazem únicos”, explicou Bel. A grande importância deste Festival é tirar o tema da invisibilidade.

José Padilha contou como faz seus filmes: busca problemas sociais que possa, através do filme, colocar na agenda da sociedade. Foi assim com 174 e também com o Tropa de Elite. “O importante é mostrar a história do ponto de vista dos que são invisíveis”, disse. Sobre o Claro Curtas, Padilha foi categórico: selecionar entre 1500 filmes, 100 e depois 20, com tantos gêneros foi uma luta. “E o melhor foi que não importava o gênero – vimos documentários, animações, drama, comédia, ficção, novos gêneros – todos falaram do ponto de vista dos excluídos”.

Padilha continuou: é fácil fazer um filme sobre a fome e colocar no YouTube. “O filme está incluído, mas o sujeito do documentário, não. Quando a gente coloca a exclusão em debate pode fazer diferença exatamente para o que tem fome”. O alerta do diretor: a ideologia por definição exclui o que não lhe pertence. É preciso cuidado para retratar o que é, como é, sem interferir.

Os filmes da categoria “cinema social”: Por Outros Olhos, Fast Food, Iracema, Sétimo Dia, Perna.

Breno Silveira e Sérgio Sá Leitão fecharam o debate – e Breno reforçou o desabafo de José Padilha e disse que foi difícil escolher três ganhadores – o ideal eram 10. Depois de contar sua trajetória , Breno ressaltou que as mudanças que vivemos permitem a cada um se expressar e contar a história do seu jeito.

Sérgio Sá Leitão, da Ancine, declarou que a exclusão no audiovisual está acabando, graças aos avanços tecnológicos. “Há pouco tempo, cinco emissoras mandavam no discurso e não havia alternativa. No cinema mais ainda: pouca gente podia fazer e menos ainda viam. Temos salas de cinema em 8% dos municípios brasileiros”. Com a convergência digital, tudo está mais acessível: produção e fruição.

Sérgio concordou com Breno: é preciso aperfeiçoar o conhecimento das técnicas, construir o seu discurso, fazer o seu registro, mostrar a sua visão, dar a sua contribuição.

Para encerrar a noite, os realizadores dos curtas exibidos falaram de seus trabalhos e carreiras e a platéia, timidamente, fez algumas perguntas .

Quinta de manhã: acessibilidade e diversidade

A manhã de ontem teve a segunda rodada sobre os curtas e os seus temas. O debate foi dominado pelos temas diversidade e acessibilidade. Para começar, acessibilidade com Stephen Hopkins e José Padilha – que teve o incentivo de Marcelo Tas: “Hoje é mais fácil fazer cinema?” Padilha foi claro: cada vez fica mais barato filmar e ainda mais fácil exibir o filme. E repetiu o libelo de ontem: “como julgar e selecionar 1.500 filmes tão diferentes? Em outros Festivais temos apenas 10 para escolher.”

Hopkins retomou o fio da conversa de ontem à noite e contou a história de um amigo que tem um celular todo-poderoso, com uma super câmera, possibilidade de editar e colocar no ar o material imediatamente. Resumo da ópera: você pode dar o seu recado como quiser.

Tas não perdeu a deixa e cutucou: “Se caminhamos para um mundo onde todos são cineastas, como fica o trabalho de vocês?”. Hopkins foi direto: no mundo do cinema, para ter os melhores “brinquedos” é preciso ir para a América. Eles dominam o negócio e mostram apenas o que dá dinheiro. A democratização mostra outras culturas, outras realidades, novas línguas. “Você cria um desafio para a indústria.”

Os filmes da categoria: O que os olhos não vêem, as pernas não sentem; Margens; Diferente, mas igual; A mão; Driblando o escuro. Depois da exibição, os diretores se apresentaram e contaram as suas histórias.

E foi a vez da diversidade tomar a palavra, com Breno Silveira e André Fischer. André contou para a platéia que a comunidade produz muito, mas não costuma alcançar o resto da população. Breno votou que o importante é a emoção – é preciso encontrar o seu jeito e descobrir a linguagem que fala de forma original e, assim, consegue extrapolar o seu universo. “Quando a gente fala com o coração, é absolutamente universal”, disse o cineasta.

Na categoria diversidade estão os curtas Brigitte Woggel; Pontapé Inicial; Um minuto para Elizeth; Vice-Versa e Essência. Depois da sua exibição, os realizadores falaram de si e das produções.

Este debate foi encerrado com uma rodada intensa de perguntas que falou um pouco do lado sombrio da internet e da falsa contradição entre dramaturgia e tecnologia.

Resumo da ópera:

#clarocurtas LIBRAS NO AREu saí destas duas rodadas, cansativas e intensas, certa de que audiodescrição, legendas e tradução para LIBRAS são fundamentais para todo mundo ter acesso a conteúdos audiovisuais.

Lembrei muitas vezes do DotSub, site que permite legendar colaborativamente qualquer vídeo embedável.

Conheci bem melhor três grandes cineastas: José Padilha, Breno Silveira e Stephen Hopkins.

Achei bacana o espírito crítico dos jurados: quanto à organização e quanto à qualidade dos vídeos finalistas. Segundo eles, foi uma escolha muito difícil.

Encantei com a galera finalista. (Eu conto já já o que rolou na premiação). Jovens, animados, unidos. Bem diferentes do pessoal que povoou a comunidade oficial no Orkut.

Espero que ano que vem a organização aprenda com o que aconteceu este ano. Minha opinião é que seria maravilhoso usar o Videolog, por exemplo, para o Festival – e criar o site de forma mais amigável. Faltou, na minha experiência: RSS; links individuais para os vídeos e um repositório dos selecionados (os 100 dos quais saíram os 20 finalistas). Mais: disponibilidade para download, depois de um tempo, para quem quer que seja, onde quer que seja. Fechar a produção só para clientes Claro parece meio “sistema proprietário” demais pro meu gostinho anarquista.

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