O texto abaixo é resultado do pedido de Karen Armstrong, vencedora do Prêmio TED em 2008 que era o seguinte:
Agora, aqui vai meu pedido: gostaria que vocês me ajudassem na criação, lançamento e propagação de uma “Carta pela Compaixão” – idealizada por um grupo de inspirados pensadores pertencentes às três tradições abraãmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo, e baseada no princípio fundamental da “Regra de Ouro”. Precisamos criar um movimento envolvendo todas essas pessoas que encontrei em minhas viagens (e que vocês encontram) e que, de alguma maneira, querem juntar-se a nós e reencontrar sua fé, uma fé que elas sentem que foi seqüestrada, como costumo dizer. Precisamos empoderar as pessoas para que se lembrem da ética da compaixão, precisamos dar-lhes as diretrizes. Esta Carta não deve ser um documento grande. Gostaria que ela oferecesse diretrizes sobre como interpretar as escrituras, estes textos que tem sido vítimas de abusos. Lembremos do que os rabis e Agostinho disseram sobre como as escrituras devem ser governadas pelo princípio da caridade. É preciso voltar a isto. Retornemos a este ponto e também à idéia de termos todos, judeus, cristãos e mulçumanos (tradições tão frequentemente em desacordo) trabalhando juntos para criar um documento que, esperamos, será assinado por milhares de líderes religiosos das principais tradições do mundo.
Eis a apresentação de Karen:
A Carta da Compaixão chegou ao mundo no mesmo momento em que Geisy era violentada na Uniban. No mesmo instante em que centenas de pessoas morreram em todo o mundo – seja por guerra, fome, bala perdida ou qualquer outro motivo banal. Que ela sirva a todos nós como inspiração. Eu sou agnóstica, vinda do cristianismo. Mas acredito com todas as fibras do meu corpo no poder da compaixão. Este sentimento nos torna iguais e unidos. E pode mudar o mundo. Você pode assinar a carta, colocar no seu blog, entrar na corrente. A tradução abaixo foi feita por Clara Terra e eu recebi através da Lia Diskin, da Associação Palas Athena.
O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, eqüidade e respeito.
É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, nos abstermos, de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros – mesmo os nossos inimigos – é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.
Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres ~ a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião – a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo -, garantir que os jovens recebam informações exatas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas – incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural – cultivar uma empatia bem-informada pelo sofrimento de todos os seres humanos – mesmo daqueles considerados inimigos.
É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes em uma determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica.