Eu sou cliente antiga da Livraria Cultura. Compro deles – ao vivo e online – desde muito antes do Submarino emergir na internet. Cliente fiel, estava muito incomodada com a minha paixão pelo app do Kindle para o Android. MUITO. Primeiro porque às vezes eu tenho vontade de ler algo em português. Não que as editoras atendam a este meu desejo e ofereçam títulos. Nem pensar, porque neste país parece que livro tem que ser feito de árvore.
Aí, resolvi experimentar o sistema da Livraria Cultura, que já está instalado há tempos no Tab, sem nunca ter sido usado. Primeiro, a lista de títulos, restrita, porca, irritante, imutável. No Kindle, em compensação, além das sugestões relacionadas com minhas últimas leituras (que às vezes falham), a busca funciona lindamente, tanto por palavra como por categoria.
Culpa do jornalão que ainda assino, a epopéia teve início porque fiquei a fim do último livro da Alice Walker, Rompendo o Silêncio (link oficial para o primeiro capítulo). Lá no app, nem o best seller da autora, nem o último lançamento. #mastermegafail. Mas tudo bem, me interessei por um outro, também em inglês. Eu já sabia que iria ser ruim. Foi pior do que imaginei.
A péssima impressão já começa na compra – que é coisa para muitas telas. Na Amazon, eu faço a compra em um clique (porque o app sincroniza com a minha conta, duh); na Cultura foram duas telas e o link do download vem por e-mail (para quê app?). Na Amazon, comprou, em cinco segundos – máximo – o livro está na sua biblioteca, prontinho pra ler. Ah, faltou contar um detalhe: o Kindle te deixa ler um pedaço do livro sem comprar nada – e se você gostar, compra para ler o resto. Nem pensar que a Cultura tem o recurso.
De volta à questão: aí você descobre, no meio do download, que o tal do e-book reader da Cultura não está instalado – porque não basta ter um app para ver o “acervo” de livros digitais publicados, é preciso ter um leitor também. E pensa: ok, eu instalo. Clica e o sistema diz que o pacote não funciona. Respire fundo, vá ao Android Market, busque por Livraria Cultura, abaixe o aplicativo. Dá erro na primeira vez. Você já gastou seis dilmas e não quer ter problema cancelando a compra e estornando no cartão de crédito, então tenta de novo. Oba! Funcionou.
Agora você vai baixar e ler o livro, certo? NÃO! Agora você tem que ter um Adobe ID, meu caro usuário. Porque não basta ser cliente da Cultura, para ter o livro – pelo qual você pagou – você tem que se cadastrar num sistema feito para grandes telas lá na tela do tablet… Respire fundo de novo. Preencha todos os campos – que não funcionam com o Swype, coisa linda de deus que a Samsung inventou pra gente escrever com facilidade no equipamento. Espere pelos erros – no meu caso foram três, inclusive uma ID que escolhi já em uso. Insista, porque você é brasileiro e não desiste nunca.
Depois de ir ao computador, abrir o navegador, checar a tua ID na meleca da Adobe, você volta e consegue, finalmente, ter o livro na biblioteca. Só que está tão profunda e imensamente aborrecida que resolve escrever um post e avisar para todos que puder: comprem na Amazon, minha gente. Já já eles estão aqui no Brasil e, espero, teremos mais e-books decentes em português. Porque ninguém merece ter experiências ruins porque a empresa não se importa com você – e nem com a Cultura que leva no nome.
Atenção: o texto acima se ampara no direito fundamental à manifestação do pensamento, previsto nos arts. 5º, IV e 220 da Constituição Federal de 1988. Vale-se do “animus narrandi”, protegido pela lei e pela jurisprudência (conferir AI nº 505.595, STF).
Anotações paralelas:
1. Sobre o e-commerce brasileiro em plataformas móveis
Eu fico impressionada com a incapacidade do empresário brasileiro de entender as plataformas móveis. Até este blog fica bem na foto mobile! Ninguém pensa no usuário, na rapidez, no uso, na quantidade (e sensibilidade) da informação solicitada. Adoro o tema, adoro e-commerce e as suas possibilidades. Com uma porção grande da população com tablets e smartphones nas mãos, prontinhos para comprar serviços, vocês criam uma experiência ruim e o resultado é: PERDEU PLAYBOY! Sabe quando eu vou usar o serviço da Cultura de novo? Nunquinhas!
2. Sobre o DRM sobre produção cultural.
Acordem pra vida. Tentar proteger com DRM só prejudica o que vocês realmente vendem. Toda vez que penso DRM lembro uma história minha. Comprei um CD da Marisa Monte (faz tempo) que tinha proteção e não rodava nem por decreto no computador (o único sistema de som de minha residência). Depois de resolver o problema, nunca mais comprei nenhum CD de música. Todos os que vieram, desde então, foram presente. Não compro mais. Ponto.
Conselho? Criem e-books, audiobooks, vendam e facilitem a vida do leitor! Vocês servem para isso: distribuir coisas que outras pessoas produzem. O livro com certeza já está na rede, em algum repositório, se existir o mínimo interesse por ele. Quem sabe procurar, acha. Editoras, gravadoras, estúdios, canais de TV: vocês são todos farinha do mesmo saco, tentando controlar o consumo de cultura. É pura burrice. Vendam cultura, muito, a preços possíveis. Porque, sim, as pessoas querem pagar – o que é razoável.
Foto do destaque: jblyberg, CC-BY