Imagem: Atheism Bus, do Flickr de absentbabinski, em CC
O Ildeber chamou:.
Está em curso uma perigosa tendência a silenciar os ateus. O argumento – calhorda, cafajeste, ignorante – é que cada vez que um ateu sai do armário, se assume como tal e começa, a partir dali, a articular publicamente suas razões para ser ateu, ele está repetindo, mimetizando, reproduzindo a doutrinação evangélica com a qual somos bombardeados todos os dias. Cada vez que os ateus começamos a falar publicamente sobre essa mais óbvia e razoável das escolhas vem alguém nos acusar de … estar querendo evangelizar os outros!
Dá pra imaginar uma simetria mais falsa?
Foi o Átila me chamou a atenção sobre o assunto, sobre o qual ainda penso muito. Eu me auto-excomunguei quando o atual papa assumiu o comando da santa madre igreja. Esta é a minha “fé herdada”, que sempre balançou por conta dos absurdos históricos da mesma. De toda forma, eu nunca fui muito praticante. Entre os 18 e os 35, explorei tudo o que podia: nova era, umbanda, candomblé, mesas brancas. Passei por muitos centros espíritas, várias rodas de estudo de tudo o que vocês possam imaginar. Nada me convenceu, até que uma amiga mais velha me ensinou a lidar melhor com o assunto – sem grandes laços, com respeito e ouvindo o meu coração.
Em 2003 comecei a estudar o processo formativo com a Regina Favre. Não, não tem nada de religião. Entretanto, ao longo dos anos, cada vez mais fui me aproximando do meu organismo, do ser biológico e cada vez mais tudo passou a derivar deste lugar biológico – que teve um começo, está (espero) no meio e terá um fim. Minha “espiritualidade” (detesto a palavra #prontoconfessei) tem a ver com o que deriva deste lugar. Não passa por templos externos, passa pelas minhas vísceras, anda pelos músculos, se transmite em impulsos elétricos e resulta em algo que ainda não consigo nomear.
No meio do caminho, encontrei a Nospheratt e a Deusa. Aos poucos, sua prática, ler os mitos, praticar o feminino em mim se tornaram rituais diários e pessoais. É uma construção, para mim, atéia. Primeiro, porque a Deusa não tem um “culto” organizado. Há linhas e linhas e linhas – para isso, nada como consultar a Debora Rocco e participar da Escola de Magia. É muito mais estudo, autoconhecimento e reflexão, até onde eu entendo – que é pouco.
Sou atéia, mas acredito no céu dos animais da Zel, nas cartas do Tarô e, sim, dou uma espiadinha nos e-mails que o Personare manda. Contradição? Um tanto. Mas, incrivelmente, não tenho mais medo de inferno (que me assombrava quando era criança), nem de gente malvada. Encaro e enfrento a realidade – sim, eu vou morrer e pode ser agora, daqui a um mês ou uns anos, sabe lá… – e vou em frente, para o bem e para o mal, como diz a Regina.
No fundo de mim, a gente pode chamar como quiser, mas esta coisa chamada religião só serve mesmo para duas coisas. Primeiro: criar regras e crenças e amarrar a gente num lugar fechado e nada iluminado. Segundo: criar fundamentalistas que mais atrapalham do que ajudam. Se a religião foi, por séculos, a maior fonte de ética e moral – e o mundo chegou ao caos em que está, pontuado de guerra, violência e destruição enquanto nos púlpitos teoricamente se prega amor e boa vizinhança – prefiro os ateus.
Por razões de liberdade, igualdade e fraternidade: sou atéia. E um ser humano igualzinho a você. Por favor, me respeite (sim, os comentários serão moderados sem dó).
P.S. 1: enquanto eu meditava sobre este post, escrevia, reescrevia, Jakarta sofreu um ataque terrorista, provavelmente, dizia a CNN na madrugada, por parte de um grupo fundamentalista islâmico. E aí, vai continuar religioso? Não mate ninguém, por favor!
P.S. 2: aposto 10 joaninhas que os caras que maltratam animais, matam gente e abandonam crianças são religiosos. Melhor ser ateu, né?