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28
jan
2015

Apartamento 72

a vista da janela do apartamento 72

Bela Cintra, xyz, apartamento 72 (o endereço completo está alterado para proteção de todas as envolvidas).

Era uma vez uma moça que morava feliz na Aclimação e convivia com todas as suas relações, raríssimas exceções, resmungando que “morava muito longe”. Era um apê alugado, pequeno, confortável, em que ela foi muito feliz – e onde, depois, viveu a sua primeira grande depressão.

Três anos depois de mudar, contrato vencido e reajuste irreal do aluguel, saiu em busca de outros cantos pra morar. E achou o Apartamento 72, indicação de um ex-namorado (que morava, na época, no 73). Um dois quartos bacana, num prédio inteiro alugado pela mesma família – que também mora por lá – numa localização simplesmente sensacional.

Como o amigo do 73 também era amigo da família proprietária, lá foi a moça, que ainda não era joaninha, para o apê 72. Morou lá por uns bons 4 ou 5 anos (já não lembro). Foi um lugar de muitas conquistas: a primeira árvore de natal, a primeira roommate, o primeiro namorado ciumento-doente.

A minha sala era assim (com irmão assustado, culpa minha)

A minha sala era assim (com irmão assustado, culpa minha)

Foi das janelas deste apartamento que vi o segundo blackout da minha vida, em São Paulo. A experiência de ver esse trecho tão urbano (vista para Peixoto Gomide, Augusta e o trecho do MASP da Avenida Paulista) absolutamente escuro, ver estrelas e agoniar por não saber ao certo o que estava acontecendo, é algo absolutamente inesquecível. [Sim, foi o grande apagão da época do FHC – que corremos o risco de reviver em breve].

No apartamento 72, planejei a reforma do futuro apartamento, com direito a muito sonho com paredes cor de laranja; ganhei e perdi empregos bacanas; namorou muito. E foi o lugar onde acolhi o maior presente da vida, em 99: Charlote, a preta mais charmosa ever. Que como b
oa gata sobrevivente chegou e se aboletou na minha barriga pra não sair nunca mais – e eu entendi, na segunda-feira seguinte, a dor das mães quando voltam a trabalhar e deixam seus bebês em casa.

Anos e anos depois, a moça que já tinha mudado do apartamento 72 conhece outra jornalista grandona, a Rina Pri. Competentéssima, linda, generosa, amiga de infância à primeira vista. E, numa conversa, descobri que a Rina era a atual ocupante do apartamento 72. Ela chegou lá muito tempo depois de ter saído. E agora que saiu pra juntar panos de bunda com outro queridíssimo, passou o bastão à Tuane.

E eu deixo com vocês três gerações de apartamento 72. Espero que a Tuane Thuany seja feliz como eu fui (e sei que a Rina também). O 72 é um lugar de passagem, aquele espaço na vida em que você aprofunda e constrói sonhos. E não é pra qualquer um.

Este post faz parte da série #projeto50 e foi escrito a pedido da Rina Pri. (em tempo, este link aí é atualizado tipo quando chove bolo – e vale a pena acompanhar). Se você quiser pedir um post pra mim, use os comentários!

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