Bela Cintra, xyz, apartamento 72 (o endereço completo está alterado para proteção de todas as envolvidas).
Era uma vez uma moça que morava feliz na Aclimação e convivia com todas as suas relações, raríssimas exceções, resmungando que “morava muito longe”. Era um apê alugado, pequeno, confortável, em que ela foi muito feliz – e onde, depois, viveu a sua primeira grande depressão.
Três anos depois de mudar, contrato vencido e reajuste irreal do aluguel, saiu em busca de outros cantos pra morar. E achou o Apartamento 72, indicação de um ex-namorado (que morava, na época, no 73). Um dois quartos bacana, num prédio inteiro alugado pela mesma família – que também mora por lá – numa localização simplesmente sensacional.
Como o amigo do 73 também era amigo da família proprietária, lá foi a moça, que ainda não era joaninha, para o apê 72. Morou lá por uns bons 4 ou 5 anos (já não lembro). Foi um lugar de muitas conquistas: a primeira árvore de natal, a primeira roommate, o primeiro namorado ciumento-doente.
Foi das janelas deste apartamento que vi o segundo blackout da minha vida, em São Paulo. A experiência de ver esse trecho tão urbano (vista para Peixoto Gomide, Augusta e o trecho do MASP da Avenida Paulista) absolutamente escuro, ver estrelas e agoniar por não saber ao certo o que estava acontecendo, é algo absolutamente inesquecível. [Sim, foi o grande apagão da época do FHC – que corremos o risco de reviver em breve].
No apartamento 72, planejei a reforma do futuro apartamento, com direito a muito sonho com paredes cor de laranja; ganhei e perdi empregos bacanas; namorou muito. E foi o lugar onde acolhi o maior presente da vida, em 99: Charlote, a preta mais charmosa ever. Que como b
oa gata sobrevivente chegou e se aboletou na minha barriga pra não sair nunca mais – e eu entendi, na segunda-feira seguinte, a dor das mães quando voltam a trabalhar e deixam seus bebês em casa.
Anos e anos depois, a moça que já tinha mudado do apartamento 72 conhece outra jornalista grandona, a Rina Pri. Competentéssima, linda, generosa, amiga de infância à primeira vista. E, numa conversa, descobri que a Rina era a atual ocupante do apartamento 72. Ela chegou lá muito tempo depois de ter saído. E agora que saiu pra juntar panos de bunda com outro queridíssimo, passou o bastão à Tuane.
E eu deixo com vocês três gerações de apartamento 72. Espero que a Tuane Thuany seja feliz como eu fui (e sei que a Rina também). O 72 é um lugar de passagem, aquele espaço na vida em que você aprofunda e constrói sonhos. E não é pra qualquer um.
Este post faz parte da série #projeto50 e foi escrito a pedido da Rina Pri. (em tempo, este link aí é atualizado tipo quando chove bolo – e vale a pena acompanhar). Se você quiser pedir um post pra mim, use os comentários!