Quando eu conheci a internet, em 93 ou 94, ela ainda não existia aqui no Brasil. Quando me dei conta das possibilidades os olhos brilharam, eu me apaixonei. Comprei o primeiro computador nesta época, com um modem de 24.400 kpbs (salvo engano).
De lá pra cá, muita água passou embaixo dessa ponte. Eu ainda por luxo mergulhei de cabeça neste mundo. Voyeur e curiosa que sou, fui juntando conhecimento e aprendendo a fazer. Do HTML 1.0 ao 5; do Blogger ao WordPress… haja língua pra gente aprender (e, confesso, continuo máster só em PT-BR e EN, o resto eu arranho). A língua virou trabalho e hoje vivo de fazer blog, escrever blog, ensinar internet. \o/
Desde o começo sempre houve trocas, muitas trocas. De fotos, PPSs (sim, hoje a gente não gosta, mas quem nunca mandou um atire a primeira pedra), até que apareceu a música. E depois da música, os filmes. E em algum momento a gente descobriu que podia ver as séries de lá ao mesmo tempo que eram transmitidas…
Estava feita a farra. Foi como quando acabou a ditadura aqui no Brasil e a gente começou a ter mais notícias do mundo. E quando o Collor ladrão liberou importação e a gente pôde comprar traquitanas lá fora. Abriram-se as porteiras e a gente correu pra aproveitar as coisas boas da vida.
Música, arte, cinema, TV, livros, gadgets. O mais bacana é a Tulipa bombar na Europa e você encontrar discos pra baixar e pagar quanto quiser, como fez o RadioHead. Ou como faz a Scubidu Records, que deixa você baixar o disco da Anelis Assumpção se você lhes der o seu e-mail. Eu até escolhi dar o e-mail de verdade… (se me spammear, ganha chicotada).
Só que os intermediários não se conformam com a vida como ela é. Querem um mundo como ele já não é há MUITO tempo. Aí começa a palhaçada: o PL do Azeredo, as muitas leis que estão lá no Congresso querendo “regular” a internet; o SOPA, a PIPA, a lei francesa do além (aka Hadopi)…
Eu vou ficando com a sensação que a China é aqui. PQP! Twitter censurando informação por conta de leis locais. Já, já estes legisladores – que entendem nada de internet – vão dizer pra gente que PHP não pode.
Quando o Lula era presidente, com o Gilberto Gil e o Juca no MinC, a gente conseguiu fazer o Marco Civil da Internet, uma ideia que pintou lá no Descolagem, que já tinha aparecido nas conversas do CampusBlog na primeira CampusParty…
O assunto é sério. Muito sério. Porque a indústria não quer fazer o básico (que está no manifesto Don’t Make Me Steal): preço acessível, disponível em qualquer língua, se eu paguei, uso como quiser e instantaneamente, sem limites por conta do país que eu moro; posso ver onde e como quiser. Leiam o manifesto, vale a pena e tá bem detalhadinho.
Quando eu resmungo dos “e-books” nacionais – que exigem pelo menos dois cadastros e duas instalações, VSF – é disso que estou falando. Alguém me explica porque a legenda colaborativa feita pelos nossos tradutores de plantão está online junto com o arquivo de vídeo e a TV a cabo leva MESES para colocar os episódios das séries no ar? Ou porque a gente paga o cabo e leva série interrompida a cada 10 minutos?
Aí o FBI ataca – no dia seguinte da grita contra o SOPA/PIPA – e fecha o MegaUpload. Aí sai estudo (The Sky is Rising) dizendo que todo mundo ganha com o nosso compartilhamento. Duh! Coisa mais óbvia não há. Nem por isso a Universal (sem link, MORRAM!) deixa de perseguir o Grooveshark ou qualquer outro serviço de streaming. Nem por isso RIAA e congêneres param.
A gente paga, sem medo, por montanhas de serviços online. Eu pago o SugarSync (poderia pagar o Dropbox, é questão de escolha), o Flickr, o Hootsuite. Pago app para usar no Tablet ou no celular. Sem medo de ser feliz, tranquila. Eu só não pago a música ou a série porque não tem como. Então, caros senhores, parem de perturbar quem está vivendo e façam o que todo mundo já falou milhões de vezes: criem um jeito justo e rápido de cobrar. E vamos em frente. Pode ser ou tá difícil?
Foto: CampusParty Brasil/Camila Cunha/Indicefoto.com – CC-BY-SA