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03
ago
2008

Colaboração e compartilhamento: reflexões primeiras

Sim, eu ando bem contrariada com os meus conterrâneos e conterrâneas, apesar de viver cercada por gente que colabora e compartilha conhecimento. Do meio da tribo geek que habita as ondas da grande teia, surgiu esta questão para mim: a sutil diferença entre compartilhar e colaborar e a falta que isso faz.
Neste País “abençoado por Deus” a gente sabe da “fartura”: falta educação, falta saúde, falta segurança… e falta o hábito de compartilhar e colaborar. Mas nosso assunto aqui não é educação. É colaboração e compartilhamento, duas atitudes bem diferentes, que na minha humilde opinião, estão na base da proposta da rede, principalmente em tempos 2.0.

foto de Julia Freeman, no SXC

foto de Julia Freeman, no SXC

Compartilhamento (Share)
No Houaiss: ter ou tomar parte em, arcar juntamente. Cada vez que você publica um link, cria um stream de fotos, coloca algo no ar, está reforçando aquele conteúdo. Seja seu ou de terceiros. Quais são os seus critérios? Genialidade, novidade, humor ou simplesmente autopromoção?
Nos Estados Unidos sites como Digg, Slashdot e Rojo reúnem o que há de mais relevante graças a critérios claros de votação e fiscalização. Seu Karma pessoal está envolvido no processo. No Google Reader e no FriendFeed não existe esta “moderação” – e este filtro vem de nossos próprios conceitos e preconceitos. Compartilhar é bom, mas tem efeitos colaterais. O principal é overload de informação. Tenho vivido uma segunda onda desta doença geek. Além dos meus quase 300 feeds, leitura de jornais, revistas, livros – e mais o trabalho de todo dia, tenho os itens compartilhados pelos amigos e vizinhos tanto no Reader como no Twitter e no FriendFeed.
Pior, os mecanismos locais de compartilhamento, como o Uêba, só viram de confiança graças ao trabalho gigantesco de seus administradores/criadores. Segundo o Knuttz, “não há mentalidade colaborativa” (já já este assunto aqui). Segundo o Gilberto, chegam 250 links todos os dias, dos quais 240 são auto-promocionais.
Veja o que nos conta o idealizador do Uêba:

Eu até já disse antes que não me importo – e não me importo mesmo -, quando o editor tem autocrítica suficiente para escolher o que vai enviar, mas o fato é que deste universo de 240 auto-promocionais, entre 180 e 190 são descartados. Dos outros 10, mais da metade é publicado.

Veja bem de 250 links, só uns 50 ou 60 são *aproveitáveis*, bons mesmo. Que vão para capa, só uns 20!! E isso porque tem gente que faz conteúdo que meus usuários gostam e emplacam link dia sim e outro também, como tem gente como o Cardoso e o Bender que eu acho que emplacaram quase todos ou todos, os links que enviaram.

Para saber como é difícil enviarem links que não são auto-promocionais, eu só tenho UM usuário que envia regularmente links externos.

foto de Lynne Lancaster, no SXC

foto de Lynne Lancaster, no SXC

Colaboração (cowork)
Salve o Houaiss de novo: trabalho feito em comum com uma ou mais pessoas; cooperação, ajuda, auxílio .
Hoje eu vivo uma situação de colaboração maravilhosa em dois trabalhos: Luluzinha Camp e Laboratório do Processo Formativo. Um não tem nada a ver com o outro.
No Luluzinha Camp tenho co-autoras, co-administradoras do blog: Juliana Garcia Sales (que fez o design e configurou o blog para mim), Nospheratt, Lu Monte, Zel e Liliana. Todo mundo escreve (até inscritas estão mandando artigos), cada uma do seu jeito. A Nosphie instalou um monte de plugins e configurou um tanto do blog. A Lu Monte ajudou numa montanha de coisas, principalmente em nossas assinaturas. Todo mundo escreve, comenta, replica, convoca. Resultado: em 15 dias, mais de 80 inscritas no evento e a idéia de replicar o encontro regionalmente, à distância. O povo do BlogBlogs vai surtar, mas acho que a gente vai precisar de LiveStream, sim.
O Laboratório do Processo Formativo é um processo/projeto profissional meu. Manoel Netto ajudou a instalar, configurar, adaptar layout. Eu e Regina Favre estamos navegando nas águas da atualização e produção de conteúdo. Ela inventa, eu operacionalizo, a gente faz juntas. Resultado: um grupo de mais ou menos 200 pessoas vai se reunindo digitalmente, começou a produzir seus próprios blogs, se apropriam de tecnologias “novas” e produzem conteúdos de suas áreas – mormente terapia corporal, que a princípio (e preconceituosamente) não tem nada a ver com este meio digital.
São duas situações em que sinto um prazer gigante em trabalhar. Todo mundo tem espaço, crédito e produz delícias que iluminam olhos, mente, coração e corpo. Colaborar, encaixar-se com outros (totalmente diferentes de nós) dá um prazer gigante. Como diz a Regina, “prazer não é algo para si, é resultado de trabalho bem-feito”. Lá na teoria dela a equação é clara: é preciso haver tempo formativo e um ambiente confiável para que o processo siga e produza o que é necessário. Corpo ou conteúdo, dá na mesma.
Para conquistar a tal da colaboração é preciso respeitar as diferenças, criar condições para todos poderem participar. Na minha experiência, as simpatias e encontros se fazem antes do trabalho. E a colaboração brota das relações que a gente cria – digital e concretamente – e crescem conforme são cuidadas.

colaboração + compartilhamento: a rede vive

A vida digital, para mim está nas duas coisas juntas. Compartilhar os achados, trabalhar juntos para algo maior que nós – e nossos interesses. Vejam o subtítulo desde blog: “Sobrevôos, descobertas, achados – me deito na web para que as joaninhas apareçam para seus olhinhos”. (tá, eu resumi, preciso retrabalhar mesmo).

Eu posso colaborar com o Sergio Amadeu e o Caribé na batalha contra o PL dos Cibercrimes. Posso colaborar com o Cazé, o Manoel Lemos ou o Paulinho Uda. E ainda com a Zel, o Louback ou o Bica. Qual o problema? Se cabe na minha vida, eu posso.

Vão me chamar de sonhadora, mas vejam o Lessig produzindo mudanças, seja com o Creative Commons, seja com o Change Congress. É possível, é factível – se for em grupo. Os enquadramentos e recortes são escolhidos por nós. Espero, sinceramente, que muita gente discorde de mim, que vários artigos sobre este assunto apareçam por aí.
É importante exatamente esta discussão: o que é compartilhar, o que é colaborar e como a gente cria um ambiente mais favorável para isso acontecer. Acho que os encontros presenciais são um ponto. Outro, importante, é a confiança na sua rede. Ela te dá bases para pensar diferente, descobrir novas fronteiras, mudar pequenas-microscópicas atitudes? O que você aprende? Te faz verificar onde está e para onde vai?

Eu sei que não tenho todo o conhecimento. Dependo de outros para conseguir ir em frente. E ofereço em troca o que sei, uma ajuda no que me é possível. Todo mundo ganha nesta roda. Difícil é quando a proposta é: você me dá o que tem e eu te devolvo um tapinha nas costas. Não é porque a gente sonha que necessariamente ficou bobo.

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