Esta postagem faz parte da blogagem coletiva pelo Dia Mundial da Água
Dados da ONU avisam: em 2050 mais de 45% da população mundial não terá água sequer para atender as necessidades básicas diárias. A razão? Apesar do volume de água ser constante no planeta azul, provavelmente naquela altura do campeonato, as fontes potáveis serão de tal forma comprometidas que as estimativas indicam que em 2025 aproximadamente 2,8 bilhões da população mundial projetada poderá viver em condições de disponibilidade hídrica social catastrófica.
Como assim, dona Joaninha?
Veja, aqui no planeta água, 97% do total se concentra no mar, em situação imprópria para consumo ou aproveitamento em processos industrias; 1,75% é gelo; 1,24% está em rios subterrâneos, muitas vezes de difícil acesso. Restam, então, apenas 0,007% do total de água para o consumo de mais de seis bilhões de pessoas no mundo. E hoje são cerca de 1,1 milhão de pessoas vivendo nestas condições.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) calcula que o consumo justo diário de água por habitante/dia deve ser de 80 litros. No Brasil, o índice diário per capita chega a 119 litros, enquanto na África o consumo chega a 15 litros por pessoa. Na Ásia são 25 litros, nos EUA o total é de 250 e na Europa de 150 litros.
No Brasil
Segundo José Borghetti, biólogo, superintendente da usina Itaipu e consultor da FAO, nosso país tem 12% do total de água doce do planeta e 53% do total da América do Sul. Para se ter uma idéia, no nordeste, onde a população brasileira sofre mais com a falta desse recurso, calcula-se uma distribuição de 3,9 mil m3 por habitante. Na China, essa disponibilidade é de 3,1 mil m3 per capita”.
“Cerca 69% da água consumida no país é utilizada na agricultura e pecuária, sendo que apenas 50% do que é utilizado para manter as lavouras já seria o suficiente para garantir a produção das safras. Poderíamos economizar metade da água nesse setor. Para se ter idéia, na produção de 1kg de alimento gastamos 6 litros de água. Na Europa, são gastos 1,6 litros para produzir a mesma quantidade”.
Isso porque a população e os governos não atentaram para o fato de que a água, um dia, pode acabar. Na verdade, existe água em abundância no planeta, mas a poluição dos reservatórios e mananciais, mais a falta de manejo adequado das terras, são fatores que colocam em risco a qualidade da fonte.
“Mesmo os aqüíferos subterrâneos correm risco de serem contaminados pelos esgotos urbanos, industriais e agroindustriais. A saída para evitar a escassez está nos investimentos em infra-estrutura, que impeçam a poluição e permitam a proteção de reservatórios, principalmente aqueles dos quais dependem regiões de grande concentração populacional”.
Você deve achar que isso está longe… Não, não está (veja nos dados da Sabesp, como os números não fecham). Exemplo? A cidade de Guarulhos, na grande São Paulo, não tem um único metro cúbico de esgoto tratado, me contou um técnico. Todo o esgoto produzido por lá cai… no rio Tietê! Se você assistiu a estréia do CQC na segunda-feira, também soube do ótimo trabalho das estações elevatórias de esgoto no entorno da Represa de Guarapiranga. A Billings, outro reservatório gigante que nos abastece também recebe esgoto não tratado de milhares de loteamentos clandestinos, paulatinamente regularizados por conta da pressão populacional. E quem freqüenta o litoral sabe: o esgoto não é tratado e jogado no… mar. Olha só que bacana. Isso aqui na Sampa Maravilha. Imaginem o que acontece nos rincões do país.
Lei ou letra morta?
A lei 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (Diretrizes para o Saneamento Básico), estabelece, no seu segundo artigo:
I – universalização do acesso;
II – integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das ações e resultados;
III – abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente;
IV – disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado;
V – adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais;
VI – articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante;
VII – eficiência e sustentabilidade econômica;
VIII – utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas;
IX – transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados;
X – controle social;
XI – segurança, qualidade e regularidade;
XII – integração das infra-estruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos.
E é muito clara no item b do terceiro artigo: esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;
Ok, a lei é novíssima, mas o problema é mais velho que andar pra frente. Já houve a campanha para limpar o Tietê. E lá está ele sujo como sempre, exalando o mesmo cheiro. Nem preciso dizer o porquê… esgoto, esgoto, esgoto. Enquanto os EUA discutem quantidades mínimas de fármacos na água da torneira, cá estamos nós, lutando pra fazer o povo da Sabesp (e congêneres) sair do escritório com ar condicionado para fazer rede de esgoto.
Alguém aí, na hora de comprar o apê novo (vale casa também) foi checar a história da rede de esgoto no local? Alguém cobrou alguma coisa da construtora? Alguém lembra disso na hora de votar? Não. A história da conservação da água vai muito além de fechar a torneira na hora de se barbear/escovar os dentes. É mais que tomar banho rapidinho. Economia é bom, não abandone (olha o número, a gente gasta mais do que precisa). Depois que você mudar todos os seus hábitos lembre-se: a água usada vira “servida” e precisa ser tratada. A doida aqui já está cuidando até de cabelo no ralo, para facilitar o trabalho. Só pra descobrir que … talvez isso não sirva de nada.
Lembre-se: a água seguirá no planeta, graças a um ciclo bastante elaborado. O que tende a acontecer, mantidos os padrões, é que nós, os seres vivos, ficaremos sem água potável…
(Borghetti palestrou no Forum da Água, promovido pelo Portal Imprensa no início desta semana, para sensibilizar jornalistas sobre a questão)
No caminho para este post encontrei um site bem bacana sobre Saneamento Básico. Pena que pede registro pra cada passo e não conta quem é…
Fotos: Macro Drop Water do Flickr de Hypergul; casa do Flickr de RaeA