Quem está na roda desde que a Cicarelli tirou o YouTube do ar (só pra alguns, mas tirou), ou antes (né, HD, Zel, Estraviz?), sabe bem que a liberdade de expressão é muito complexa aqui na internet. Quando, durante o Descolagem, o Ronaldo Lemos falou pela segunda vez em Marco Civil para a internet (a primeira foi na palestra dele no CampusBlog, na primeira CampusParty), todos nós apoiamos.
Porque, né, a gente já estava sendo vítima do desmando judicial. Houve caso de gente que teve que tirar post. Houve blog impedido de funcionar por conta de ação do senhor Sarney. Houve mil e um descalabros. (Será que o related posts vai funcionar e eles vão aparecer aí embaixo? Checo depois).
Eu já tinha sentido a irritação tomar conta quando conseguimos (finalmente) passar o #marcocivil pelos trâmites legais, depois daqueles caras de Brasília (que não são nossos representantes, já sabemos) receberem centenas de e-mails, pressão de todo lado, uma luta dura. Muito dura e comprida.
Vocês imaginem que a gente começou a mexer nisso em 2008. Que fomos para a rua defender a liberdade de expressão na internet em 2010. Éramos meia dúzia de gatos pingados em comparação com junho de 2013. Mas cercamos os representante do deputado numa CampusParty, fizemos muito barulho!
Quase fizemos uma associação (num encontro durante uma CampusParty). Gente de todo o Brasil se reuniu em lista de discussão. Gente de fora da lista aderiu e entendeu as nossas razões. E, UFA, o Marco Civil entrou em vigor.
Agora o seu Azeredo a turma do Azeredo, porque elezinho já foi cassado por corrupção, vai ter trabalho redobrado para pisotear os meus, os seus, os nossos direitos de expressão na internets. Aí, você vai ali no YouTube e zoa, sem a menor responsabilidade, uma empresa e o nome da mesma. A empresa entra na justiça e, claro, tira o SEU VÍDEO do ar.
Ó injustiça! Como assim? Censura!!!
Não, não, não.
Isso não é censura, meu anjo. Censura é o TRE de não sei onde tirar o Twitter Brasil do ar achando que era Twitter (o único post em inglês deste blog). Censura é a Cicarelli mover ação e quase derrubar a internet no Brasil. Censura era o que o Azeredo ia fazer – e o teu canal iria deixar de existir, não seria “só” um vídeo e você seria responsabilizado criminalmente.
Primeiro: quando eu publico qualquer coisa que fale mal de alguém (cof, alguma empresa, cof) eu tomo cuidados como usar um disclaimer para me expressar, jamais usar baixo calão, não uso adjetivos, sou objetiva. Olha só o texto, escrito pela Lu Monte e liberado para o velho e bom copia e cola:
Atenção: o texto acima se ampara no direito fundamental à manifestação do pensamento, previsto nos arts. 5º, IV e 220 da Constituição Federal de 1988. Vale-se do “animus narrandi”, protegido pela lei e pela jurisprudência (conferir AI nº 505.595, STF).
Confira alguns textos em que usei este trecho:
Quem está processando o Congresso em Foco: https://ladybugbrazil.com/2011/11/quem-esta-processando-o-congresso-em-foco-%E2%80%93-republicando/
Atenção, Livraria Cultura, eu vou comprar na Amazon: https://ladybugbrazil.com/2011/08/atencao-livraria-cultura-eu-vou-comprar-na-amazon/
Relembrei porque me auto-excomunguei da Igreja Católica – Roda Viva: https://ladybugbrazil.com/relembrei-porque-me-auto-excomunguei-da-igreja-rodaviva/
Segundo: eu JAMAIS zoei o nome de uma empresa. Eu falei que o serviço não presta, que não funciona, o que aconteceu. Eu tenho PROVAS disso – protocolos, reclamações, etc. Se der problema, sei até quem será a advogada que vou chamar. E sei que isso vai me custar dinheiro, movimento e dor de cabeça.
Ao longo da vida de jornalista eu aprendi uma coisa: eu posso assistir quantas séries quiser, babar o ovo da cultura/ideologia que eu quiser, mas o Brasil vai continuar como é, até que a gente o transforme.
Começamos a fazer isso em 1500. Já se vão mais de 500 anos de história. É pouco. Precisamos andar muito, ainda, comer muito saco de sal, como dizia meu avô. Haja manifestação na Paulista, luta com blackbloc, etc. Antes de sair por aí enchendo a paciência de quem realmente fez e faz história nesse país, melhor pensar um pouco.
Porque a sua leitura de uma lei prevalece sobre qualquer outra?
Porque a lei está errada?
É perfeita? Não, não é. A gente fez e a gente sabe disso. Você não participou? Azar o seu. Eu participei, chamei os leitores, enchi a paciência de todo mundo que me cerca (on e offline) porque sabia da importância.
Não eu não tenho canal bombado no YT. Não, eu não tenho milhões de views. Eu tenho um blog (e existo) pra fazer a diferença, dinheiro eu ganho em outro canto (às vezes aqui também).
A grande questão, que se coloca no seu mimimi é: tiraram meu vídeo do ar. Em vez de chamar a tropa de choque (eu, o @Tsavkko, o @marcogomes) e pedir ajuda, fica aí: o marco civil isso, o marco civil aquilo…
Alguém me traga meus sais, por favor! Porque, né, a culpa de ter idiota à solta na internet (e no mundo) é do Molon e do Marco Civil (que não é do Molon!!!). O Marco Civil foi a segunda lei popular do Brasil. A primeira foi a Ficha Limpa. Prestenção!
Chega de mimimi. Vamos ver se essa retirada é legítima (de bater o olho eu acho que é, mas nem assisti ao vídeo, confesso, porque eu não sou otária pra assinar Canal do Otário). Eu luto. Pra ganhar dinheiro, pra vencer doença séria, pra viver melhor, pra ter um país melhor.
E você, mimizento?
Foto: Shutterstock: soliman design
UPDATE: Este post contou com a consultoria jurídica luxuosa da Flavia Penido
UPDATE 2 (17h51, 27/6/14): ótimo texto do @prenass sobre o assunto também (com print screen que mostram a razão da minha ira): Mais uma lorota do Otário contra o Marco Civil?
UPDATE 3: (1/7/14): confirmado! O vídeo não foi retirado por conta do Marco Civil, mas por ação judicial. (O link leva ali pro Estadão… )