Retrospectivas são caminhos escolhidos numa edição. Por isso elas dizem tanto sobre quem somos. Às vezes ficam com gosto de necrológio, porque a gente teima em lembrar quem nos falta, quem partiu. E fazem sentido dentro da filosofia do presente: processando o passado, seguimos rumo ao futuro um pouquinho mais inteiros, um pouquinho mais calmos, sem tanto susto.
A verdade é que 2013 foi dos anos mais difíceis. Ano de superar tratamento, de ganhar um bilhete de alforria e uma espada no pescoço. De perder dois gordos amados. De ter medo a cada exame. De continuar a tomar decisões difíceis e assumir a responsa pelos bigodes que cuido. E 2013 também foi ímpar. Redescobri a vida, ganhei força, comecei um caminho longo rumo à maturidade. Olhei mais o céu, fiz as plantinhas renascerem nos seus vasos. Canseira de NSA, de Congresso Nacional. E descobrir que as palavras estão encruadas dentro de mim. Há assunto, há desejo, há pulsão… e as bichinhas simplesmente não quiseram habitar os meus espaços nem dizer o que sinto.
Na maré da vida, desejo. E destes desejos vêm os fazeres. Que a gente seja mais encorpado, aceite a realidade como é e faça todos os pequenos gestos para transformar realidade em utopia. Mais que felicidade, quero satisfação. Que os sabores retornem, os movimentos nos tomem. Rebolar, esticar, alcançar. Pisar, andar, correr, nadar. Que a emoção tenha lugar, sempre, e faça a vida brilhar.
Desejo que nesse ano que começa com lua nova e promessas de coisas boas e ruins seja pleno para todos. E que a gente volte a olhar o céu, imaginar e produzir diferença. Chega de produzir em massa, viva a artesania.
foto: Nicholas Erwin, CC-BY-NC-SA