O FemMaterna está de blogagem coletiva: Maternidade, paternidade e carreira. Como não conciliar essas coisas. Amei a proposta, porque tudo o que vejo na “mídia” (aka revistas, tevês, rádios e jornais) por aí vai na linha de “como conciliar”, colocando um peso absurdo nas costas da mulherada – como previsto.
Sou não mãe, sou “tia solteirona” e feliz. [Bate na madeira três vezes]. Amo bebês, crianças; mas… nunca quis um pra chamar de meu. Difícil é, no meio do cultura que nos cerca, chegar a esta conclusão. E depois dizer isso em público. Porque né, se mãe tem que ser de um certo jeito (leiam o texto da Clara Averbuck sobre o assunto), mulher também tem que querer filho e marido.
Nunca quis casar. Só fui descobrir isso depois de desfazer o primeiro (e único) casamento, há muito tempo atrás, às custas de muita terapia. O trabalho sempre foi meu guia, salvador, produtor de conhecimento, encontros e satisfação. Os amigos e a família são a companhia que preciso na vida, quando quero.
A coisa de “ter filho”, inclusive, entrou na equação da minha vida exatamente por conta do trabalho. Há muito tempo atrás, quando começava a nascer a internet como a conhecemos, fui trabalhar numa revista sobre… gravidez e filhos.
Nunca sonhei tanto com gravidez e bebês. Durante os quatro anos em que estive por lá – eu não fazia só isso, coordenava uma montanha de outras publicações – sonhos com barriga, partos, bebês e quetais eram recorrentes.
Claro que foi assunto de muita sessão de terapia. Foi assim que descobri que sonhar com gravidez não precisa ser “vou engravidar”. A gente pode, sim, engravidar de ideias, ideais, sonhos, textos… Ao sair deste trabalho, eu tinha duas ideias fixas: mudar de profissão e engravidar.
Como quem me conhece pode perceber, nenhuma das duas se tornaram realidade, do jeito que imaginei. Ter filhos, realmente, não é pra mim. Eu me contento, hoje, em ser uma tia relativamente presente e dou o melhor de mim pro papel – mas juro, não é lá muito importante, não.
Claro que me encanto com crianças, com seu desenvolvimento, sua graça (e as desgraças também). Só que na minha genética não tem essa de “tem que ser mãe”. A carreira acabou mudando mesmo – as redações são para poucos e eu não encaixo no ambiente atual – e a vida seguiu, agora aqui, online, descobrindo novos fazeres e me encantando com outras questões.
O resultado da aventura profissional é que eu sei muito de gravidez, de parto, de amamentação, das fases de desenvolvimento das crianças. Um conhecimento que me faz uma mulher melhor, se vocês querem saber. Ser mãe, entretanto, é mais, muito mais que isso.
E o trabalho (eu não tenho carreira, construí uma sequência de aventuras múltiplas), sim, virou o “filho” que produz mudanças em mim e na forma como eu estou no mundo. Que me permite voar e descobrir novos mundos.
O que me assusta é que para a “geral” é condição obrigatória para todas as mulheres ter filhos. E não consideram que uma mulher pode querer só ter a sua vida, a sua carreira e mandar no próprio nariz. Não, gente, ser mulher não me obriga a ter filhos.
Ao longo da vida digital, conheci muitas outras mulheres que também não querem filhos. E têm na sua carreira o grande pilar de vida. E isso é muito bom. Porque a gente pode fazer o que quer, como quer, do jeito que quer – no tamanho e com a profundidade que pode. E isso fala sobre aquele velho direito inalienável do ser humano: a liberdade de escolher o seu destino. Que também é direito das mulheres e mães, não?
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