Algo começou a mudar no Brasil. São Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre… A revolta que já estava dentro de nós começou a ganhar voz. E as vozes foram se juntando. Enquanto a mídia instituída obviamente não contava a história inteira, o povo foi compartilhando o que viveu nas ruas pelo Twitter e Facebook. O resultado foi às ruas na última quinta-feira, dia 13 de junho.
Na noite de 13 as grandes redes de TV transmitiram com quase todos os detalhes a violência da polícia contra a galera na rua. Do descompasso entre imagem e discurso nasceu revolta, humor, muitos vídeos. Não são os vinte centavos. Não é mais só pelo direito de protestar. A nossa lista é muito comprida. Tem a ver com respeitar passeatas pró- Estatuto do Nascituro (entre outras).
Do alto dos quarenta e muitos, saindo de um tratamento de saúde que me custou toda energia e grana, estou sentindo cheiro de revolução. Enquanto uns acham que nada vai mudar (turbulência passageira), outros usam as ferramentas que sabemos usar tão bem a favor de nossos pensamentos – devidamente reunidos em um post. E outros, ainda, aproveitam o enorme fluxo de dados – em meio ao escândalo de conhecermos o Prism e nos sabermos escaneados, vigiados – para mostrar como as pessoas se comportam e se comunicam em rede – http://www.labic.net/cartografia-das-controversias/a-batalha-do-vinagre-por-que-o-protestosp-nao-teve-uma-mas-muitas-hashtags/.
Na quinta-feira eu vi, ao vivo, tudo o que sempre ensinei: as pessoas se conectando, divulgando, contando. Usamos as câmeras nos helicópteros para contar o que acontecia a quem estava na rua. Quem estava na rua tirava fotos, fazia vídeos, gastava o 3G com vontade – e a gente, de casa, compartilhava, difundia, comentava, processava a informação como podia, nos canais que tínhamos.
Enquanto isso, também fomos, todos, testemunhas do descompasso discursivo da imprensa. Quem havia incitado a violência da PM na quinta-feira de manhã tinha vários jornalistas feridos. Outros foram presos. E a PM, graças ao desmando, conseguiu a atenção da imprensa internacional – porque atingiu os jornalistas, que fique claro. [P.S. Hoje, sábado, esse descompasso se repetiu nos protestos no DF, com a imprensa voltando à mesma posição. ]
Na sexta, dia 14 de junho, os produtos. Centenas de posts. Vídeos no YouTube… eu estava entre euforia e choque… Aqui uma pequena seleção:
veja o melhor vídeo #vemprarua,
Demorou dois dias para surgirem os primeiros relatos de violência sexual contra as mulheres da passeata – vítimas de membros da polícia militar, por enquanto. Eu ainda estou processando tudo, na rapidez que me é possível, e os registros ficam lá no Twitter e no Facebook (não dou link, é pros amigos)… A esta altura tento seguir o que aprendi com o Hernani Dimantas, autor de Marketing Hacker, dizendo que somos sub-comandantes e o papel não é liderar, mas permitir que as comunidades se façam e ajam por si.
Enchi o peito assistindo ao hangout produzido por podcasters conhecidos: Professor Maury e Tato Tarcan, do We Are Geeks, com Marco Gomes, amigo querido. O orgulho de ver gente conhecida (Marco e Talita e Dani Cruz, entre outros) nas ruas, contando o que viam e viveram, não tem preço. Saber que #chupaDilma é Trending Topic hoje, depois da vaia no Mané Garrincha, também não tem preço. Ler textos cristalinos e respeitosos no Facebook sobre o nosso direito à liberdade de expressão também é algo impagável.
Daí, ontem no começo da noite, parece que a imprensa se tocou que estava perdendo. Vai que o meu post dizendo que deixei de assinar os grandes jornais de São Paulo não foi tão isolado assim (foi apoiado e aplaudido, inclusivemente). Rodrigo Ghedin mandou bem fazendo uma newsletter em edição extraordinária com os principais textos (visão dele) que explicavam o que acontecia aqui em São Paulo. Sim, o moço que está em Maringá, PR, consegue prestar um serviço deste tamanho a seus amigos em São Paulo! Aprende grande imprensa!!!
A @anarina (que sempre admirei muito, desde que cruzei com ela pela primeira vez no Trezentos), aproveitou o fato de trabalhar em um grande portal e foi pra rua mostrar quem estava por lá, com uma colega. Ela escapou da pancadaria e mostrou, lindamente, quem são as pessoas que fizeram o ato #sp13j. A dispersão de hashtags, a pressão por não deixar a política instituída, bolhas de violência… tudo está se misturando.
Eu ainda não tenho coragem de ir pra rua. E a gente já combinou, aqui na rede, que tudo bem: posso ficar em casa, colocar um lençol na janela em apoio à manifestação, reunir todas as informações que conseguir via tevê, rádio, internet para quem estiver na rua, ficar de olhos muito abertos e ajudar a escrever a história contemporânea do Brasil.
Destaco para vocês o que me chama a atenção: a diversidade. Temos todos os times de futebol, feministas, gente de diversos partidos, de idades díspares (desde jovens até adultos), raças idem. Melhor que isso: a classe média e seus instrumentos (celulares caros, câmeras) estão junto com quem não tem nada. Claro que os negros e os pobres (se for os dois, cuidado triplicado) têm que tomar mais cuidado – preste atenção no hangout acima citado em que um branco, amigo de um negro, se declara acostumado a ser parado pela polícia por causa disso. #racismodetected
Como ninguém gosta de post muito comprido, paro por aqui e aviso: amanhã tem serviço com links, dicas e imagens que estão multiplicando abas aqui em progressão geométrica, pra todo mundo ir preparado na manifestação de segunda-feira: https://www.facebook.com/events/388686977904556/
Pra fechar, o vídeo em inglês, pro mundo inteiro entender.
[update, abril, 2016: porque diabos alguém torna este vídeo privado no YT?]