Conversando com o @castroalves, no Gtalk, surgiu de novo a história que já havia aparecido no sábado, depois do LuluzinhaCamp SP: como fazer para conseguir bons escritores para os blogs? O fato: impossível manter o blog de uma comunidade (o LuluzinhaCamp) ou de uma empresa (BeesOffice) sem colaboração. Difícil é conseguir alguém que:
Lá nos Estados Unidos tudo se resolve: os blogs pagam escritores que se dedicam exclusivamente a produzir conteúdo – e convidam os amigos para artigos a torto e a direito, o que ajuda muito a potencializar não só as conexões como a publicar novos pontos de vista. Basta consultar os classificados do ProBlogger pra saber o que está rolando. Ou ler o Mashable. Ou dar uma voltinha em qualquer outro (grande) de sua preferência. Aqui, o primeiro a conseguir criar um time e fazer isso funcionar foi o MeioBit. Este ano, os parabéns são para o TecnoBlog. Mesmo assim, eu tenho vários amigos em busca de bons parceiros para escrever que, muitas vezes ficam a ver navios.
Há muito tempo atrás, numa internet que já não existe, isso até aconteceu. Foi assim que comecei a escrever no Goitacá, no Faça a sua Parte, no Balela e, no ocaso destes tempos, no Trezentos. Não, Deusario não entra neste balaio, não. É resultado do tal “convite para amigos blogarem”, feito pela Nospheratt. Em todos, passado o primeiro tempo de paixão, é difícil mesmo manter a diversidade de assuntos, o ritmo de publicação e evitar a velha “reprodução automágica”. Explico: você acha algo legal num blog ou site em inglês e reconta a história aqui do seu jeitinho, encaixado pro seu público. O resultado até é bom pra grande parte dos leitores brasileiros, mas não satisfaz.
O segredo e a alma do texto são, sem dúvida, a satisfação do escrevinhador. E aí a porca torce o rabo, porque como você vai conseguir alguém para produzir conteúdo junto com você, na mesma direção, se escrever é puro hobby? A resposta é direta: Não vai.
Tanto é que quem faz projeto de blog para clientes já inclui no pacote os escrevinhadores profissionais. Porque aqui no Brasil de dentro das empresas, em geral faltam tempo ou habilidade para produzir textos – raríssimas exceções. O grande jeito é, sempre, mobilizar a comunidade (no caso do LuluzinhaCamp, talvez dê certo. Em 2011 saberemos) ou profissionalizar, como fez o Tecnoblog.
O pulo do gato: disciplina
E mesmo para quem é profissional, como eu, haja fôlego. Escrever constantemente e com qualidade inclui muito tempo de leitura, muita pesquisa e disciplina. Ler, já se disse e repetiu, é a alma de escrever. Não importa onde você lê, este é sempre o primeiro passo para produzir um texto. É algo que deveria vir da escola, estar em todos, mas não está. Embora haja a crença, muito espalhada, de que “qualquer um sabe escrever”, a grande verdade é que quase ninguém sabe. Quem dirá gostar de fazer isso.
O primeiro problema óbvio é dominar a gramática, a ortografia e o uso do dicionário. Se eu ganhar um centavo por cada absurdo ortográfico ou pontuação mal feita que leio, ganho um milhão antes de 2010 acabar, podem acreditar. E veja, estou incluindo aí jornais, revistas e portais – que, teoricamente, são feitos por profissionais.
Para além da questão “formal” da língua, há o estilo, solenemente deixado no plano infinito pelos brasileiros – tanto leitores quanto produtores. Se ninguém parece se importar, isso não deixa de ser importante. O estilo é o que gruda o leitor no texto, o faz continuar preso por quanto tempo se estender.
A pesquisa é outra arte desqualificada: encontrou algo de interesse? Veja o que já foi dito, confira as informações, busque novidades, encontre as melhores imagens para ilustrar. Parece bobagem, mas o tempo gasto neste item (aparentemente simples) muitas vezes vai até a página 10 do Google.
E a disciplina, ah, a disciplina! Sem ela, você pode tirar o seu cavalinho do pasto, porque nada funciona. A disciplina é necessária para ler, para pesquisar e, fundamentalmente, para escrever.
Aprendi há muito tempo, com a dona Nospheratt, a criar um calendário semanal de tarefas. Eu faço do meu jeito – mas é influenciado por ela, claro. A primeira coisa é a leitura. Todos os dias, TODOS, eu leio quase tudo o que está no RSS. Só marco como lido o que realmente não interessa. E se não interessar por mais de uma semana, sai. Mesmo assim, estão lá, hoje, mais de 300 feeds.
O que interessa, vira post ou serve de referência tem vários destinos possíveis. Como não estou mais fazendo o Achados na Web (ele talvez volte, não sei), a vida é mais fácil: vai pro Evernote e pronto.
Para fechar o quesito disciplina: reserve tempo para escrever. Porque cada post consome horas. Quem faz, sabe. Tenho dois dias de escrever na semana, no mínimo. Neles, o teclado faz barulho, podem acreditar. Uso uma ferramenta de publicação à distância, preparo os textos no computador, faço as checagens e conferências, já coloco os links. Depois de mandar para o blog/site como rascunho, corro lá pra completar o serviço: última revisão de texto, links, ajeitar as fotos e seus créditos. Normalmente as tarefas se resolvem no primeiro dia, mas tenho o segundo já previsto, porque sou humana e nem sempre consigo fechar o trabalho no primeiro dia.