Mais uma vez eu fico de luto pela internet e pelos brasileiros. Hoje foi a vez do Desencalhamos ser atacado, por conta de um post em que a Lari e o Rodrigo contaram sobre a Di Roma Chocolates. Ao ler o conteúdo do primeiro post, que o advogado da empresa fazia questão que saísse do ar – como de fato saiu – cheguei ao e-mail de atendimento e, possuída pela indignação mandei a seguinte mensagem:
Assunto: Chocolate com Censura
Acabo de saber que o advogado dos senhores pediu ao blog Desencalhamos para retirar o post em que fizeram uma narrativa do atendimento que receberam em seu estabelecimento. Venho, por meio deste e-mail, protestar contra tal atitude. Que empresa é a de vocês? Imaginam o quê da liberdade de expressão, um direito constitucional de todos nós?
Estou comunicando o fato a toda a comunidade de blogueiros e divulgando o fato no twitter. Se as críticas não cabem, usem a caixa de comentários para se defender. Usem seu direito de resposta. Retirar o post do ar é o fim da picada. Se os responsáveis pelo blog realmente fizerem isso, nós vamos replicar este post ad infinitum pela internet, inclusive em inglês e fora do Brasil – para que o fato siga registrado. Há muitos, muitos outros meios de divulgar esta informação.
Tratem de treinar melhor seus funcionários, melhorar seu produto e atender melhor seus clientes. Usar as críticas para melhorar é sabedoria. Apelar para a violência contra o direito de expressão é pura burrice. Isso só vai aumentar o fato.
Pensem um pouco antes de seguir em frente.
Abraços
Agora, relendo, acho que, em vez de ajudar, piorei a situação. Pior para eles, porque eu realmente fiz tudo o que pude para manter os rastros do primeiro post pela rede. E, claro, o maior carrasco no caso foi o tio Google, que colocou o post fresquinho da querida dupla dinâmica em terceiro lugar na busca. Mal sabem eles o que vai acontecer agora, porque já escreveram sobre o assunto: Cintia Costa, Gabi Bianco, Alessandro Martins, eu vou publicar aqui e no Trezentos. A roda pode aumentar…
A questão é a mesma que apareceu há algum tempo no Resenha em 6, quando o pior boteco do sistema solar resolveu pressionar a retirada do post homônimo do ar. No caso do Rancho da Traíra, no Manual de Sobrevivência em S. Paulo, a conversa não foi tão longe. O Netto simplesmente tirou o logo da empresa e colocou um update maior que o post contando toda a história. O restaurante não foi em frente.
De um lado, blogueiros e suas opiniões – nem sempre confortáveis. Do outro empresas – que querem porque querem que todo mundo acredite que são exatamente o que dizem ser. Em geral não são, né? Estão aí o Reclame Aqui, o Procon e os muitos institutos independentes de defesa do consumidor para provar o que disse há duas semanas no Ad Chef Gourmet sobre empresas e mídias sociais: as empresas brasileiras em geral parecem não estar nem aí para os seus clientes/consumidores. A sua razão de existir não é atender bem, resolver problemas para seus clientes/usuários ou entregar o que vendem. Na corrida selvagem pelo lucro elas esquecem que a sua razão de existir somos nós. E que na era digital nós temos liberdade para publicar nossos pensamentos.
Em vez de escutar o que é dito, usar isso como o que realmente é – uma informação valiosa, que custaria os olhos da cara em pesquisa de mercado -, empresários de todos os tamanhos, raças e cores preferem ameaçar blogueiros ou ir à Justiça. Ok. Eles estão no seu direito. Como também é direito de todos nós expressarmos a nossa opinião e contar as histórias que vivemos.
Como bem diz o Manoel Lemos, o que está na internet é como xixi na piscina, não dá pra separar depois. Pena que os empresários brasileiros menos educados para a era da informação ainda acham que são senhores de engenho e seus consumidores são escravos. Toda vez que eu ouvir Di Roma vou achar que o chocolate é ruim. Sorte deles que eu não pretendo casar, né?
update: também escreveram sobre o caso a Francine, a Lunna, o Dois Expressos…