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08
dez
2009

E por falar em censura…

Claudia e Roney, iMasters Intercon2009Semana passada, mais uma vez, o choque atravessou as ondas da rede. A querida Claudia Mello foi condenada a pagar R$ 2.940,00 a um médico sobre quem escreveu em seu blog – o post foi apagado, mas farei questão, como o Roney, de replicar seu conteúdo. O @lebravo, amigão da Claudia, criou uma vaquinha para todo mundo poder ajudar. A esta altura, quase uma semana depois, faltam R$ 500. Colaboração é isso… O pior, para mim: a Claudia foi processada por injúria e difamação – sim, ela falou mal do médico – e contra isso, no processo, não existe “é verdade ou não”. A nossa amiga blogueira falou a verdade. Ela foi mal atendida e se tivesse seguido o tratamento do médico, provavelmente teria se entubado. Mesmo assim a cabeça do juiz achou por bem que ela pagasse por danos morais…

Na verdade, o caso da Claudia soma-se aos muitos problemas que a internet brasileira vem enfrentando na Justiça. A primeira onda veio com a perseguição à Alcinéia pelo Senador José Sarney – o pai do moço que colocou o Estadão sob censura -; o caso do Twitter Brasil, único post em inglês neste blog; do pior boteco da galáxia; do restaurante que encheu os pacovás do Manoel Netto por conta do peixe salgado; da censura prévia aos blogueiros do MS – que não podem emitir opiniões sobre o presidente da Assembléia local, que tem mais de 90 processos na Justiça…

A lista poderia estar cheia de links. Nem vou atormentar vocês com isso. Se quiserem os detalhes, peçam aqui nos comentários que eu faço um update. O interessante no caso da Claudia, é que envolve uma classe (os médicos) que vive praticando malfeitos pelo Brasil afora e, geralmente, fica impune. Ninguém precisa ir muito longe para encontrar um caso. Denúncias ao Conselho profissional em geral dão em nada – eu fui editora de uma revista de grávida por quatro anos, vi e ouvi casos de deixar os cabelos em pé.

Tem um lado bacana em deixar a “notícia esfriar”: é possível ver onde as discussões vão dar. Nas listas das Luluzinhas, além da corrida pra ajudar, dos gritos contra a injustiça reinante, o e o lembrete para participar do Marco Civil da Internet (a consulta pública ainda está aberta, corra), a maior conclusão foi: todo cuidado é pouco na hora de escrever. Algo tipo “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém” (eu acho que o nome disso é auto-censura, as moças não acham).

Enquanto isso, na Webees, a discussão segue acalorada. Além, muito além do horizonte, há a questão que eu já gritei aqui: cadê a nossa liberdade de expressão? Cadê a justiça a favor do cidadão? Cadê acesso à justiça? A conclusão:  é preciso conversar antes de correr pros tribunais. Qualquer um que ganhe mais de R$ 1.400 não tem acesso à justiça gratuita. Portanto, nós, ricos blogueiros estamos ferrados.

Como bem disse a Lu Monte: a gente pode falar mal na mesa do bar, em e-mail, no jornal, mas no blog não? Os caras podem atender mal, intimidar e ameaçar  e a gente não pode contar? Como assim, seu juiz? Isso é censura, sim! E, concordo com a Lu: da pior espécie, porque é baseada em poder econômico, na capacidade de pagar advogado e mover ação. Pois bem, tá aqui o post da Claudia Mello, devidamente editado por seu companheiro.

No domingo passado eu comecei a ter febre e dor no corpo. Na segunda-feira, a febre chegou a 38,9 e fui ao pronto-socorro. A médica me deu alguns remédios (antiinflamatório, anti-histamínico e vitamina C) e me disse para procurar um otorrino caso eu não melhorasse até quarta-feira.

Eu melhorei da febre, mas, com a obra, a garganta inflamou um pouco e ontem de manhã eu estava sem voz, com o nariz totalmente congestionado e, conseqüentemente, com dor de cabeça e sem respirar direito. Como tenho tendência crônica a ter problemas de garganta e sinusite, achei que era melhor dar um pulo no otorrino. Afinal, pago o plano de saúde e devo usá-lo para não jogar dinheiro fora, certo? A esta altura do campeonato, não sei…

O diálogo a seguir aconteceu ontem de manhã, na clínica XXXXXXXXX, que fica na XXXXXX de XXXXXX. O médico era o dr. XXXXXXXXXXX (CRM-RJ XXXXXXX-? – dígito ilegível).

Entrei sem voz no consultório e sussurrei: “Bom dia”.

Médico: “Nossa, você está sem voz! Desde quando está assim?”

Eu: “Hoje de manhã.”

Meu marido disse: “Eu vim de intérprete.” (risinhos gerais)

Ele pegou uma espátula e deu uma olhada (durante aproximadamente 3 segundos) na garganta e concluiu, em tom definitivo: “Ah, é só uma inflamaçãozinha na garganta. É normal nessa época do ano. Tem diabetes ou hipertensão?”
Respondi que não e ele se sentou na mesinha para receitar os remédios. Eu, sem acreditar no que estava acontecendo, virei para o meu marido e fiz gestos, pedindo para ele explicar a situação. meu marido começou:

“Olha, ela teve febre alta na segunda.”

Médico: “Hum-hum.” (Sem levantar o olhar do papel.)

Meu marido: “Ela está com o nariz muito congestionado.”

Médico: “Teve dor de cabeça?”

Meu marido: “Ela disse que está com dor de cabeça desde hoje de manhã.”

Médico: “Hum-hum.” (Com o mesmo desdém.)

Fiz gestos para o meu marido mostrar a ele a receita que recebi na segunda.

Meu marido: “Olha, ela está tomando estes remédios.”

Médico: “Hum-hum. A gente vai fazer um pouco diferente, viu? Você vai tomar Decadron durante 5 dias e depois vai passar para a Loratadina (que eu já estava tomando) durante 10 dias. À noite, vai pingar dois jatos de Flixose antes de dormir. Se tiver dor de cabeça, pode tomar um Tylenol.”

Eu, desesperada, pedi ao meu marido para dizer que eu costumo usar Nasofelin à noite.

Meu marido explicou e o médico disse: “Tudo bem, mas agora você vai usar este. Não vou dar antibiótico por enquanto. Vamos evitar.”

Eu, com cara de abismada, olhei para o meu marido, que disse para o médico: “Olha, ela já esteve no hospital na segunda e a médica disse que, se não melhorasse, era para vir aqui e que era melhor entrar no antibiótico.”

Médico: “É, se tiver febre de novo, você volta aqui e a gente vê o antibiótico.”

Eu, desesperada: “Mas eu não posso parar de trabalhar.”

Médico: “Tá certo. Se piorar, você volta.”

Com isso, quase nos botou porta afora.

Esse diálogo/consulta durou menos de 5 minutos. NÃO ESTOU EXAGERANDO! O médico não quis saber NADA além da “inflamaçãozinha” na garganta suposta por ele. Simplesmente não fez anamnese, então não sabe:

– que tenho tendência crônica a sinusite, laringite e faringite;

– que não tenho amígdalas;

– que eu estava suando frio;

– quais eram meus sinais vitais (pressão arterial e batimentos cardíacos, no mínimo);

– que eu não estava respirando direito.

SURREAL! Como é que o cara me receita um corticóide assim, sem me examinar, sem saber meu histórico médico??? Fiquei muito chocada. Os efeitos colaterais dos corticóides são BEM piores que os efeitos de tomar antibiótico por uma semana.
Resultado: comprei uma caixa de amoxicilina e comecei a tomar por minha conta e risco.

Minha conclusão, depois de algumas desventuras semelhantes, é que médico bom no Rio de Janeiro é uma raridade! De memória, eu salvaria o dr. XXXXXXXXX (excelente ortopedista) e a dr. XXXXXXXX (excelente ginecologista).

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