Luluzinhas se reunem sob o Baobá. Foto do Cardoso
A poesia que está no cenário – areia branca, céu perfeito, mar quente, brisa fresca e conforto no hotel – teimam em anestesiar o senso de responsabilidade ambiental de seres urbanos estressados. No caso da Joaninha, algum tempo de falta de sol e a decorrente fotossíntese, completam o serviço e nocauteiam todas as minhas crenças e práticas. Sem contar que não deu tempo de perguntar sobre os cuidados com o meio ambiente, no meio da programação mais que corrida que tivemos em Porto de Galinhas.
Vou começar meus relatos sobre o Porto Cai na Rede com as coisas que pude perceber sobre o meio ambiente – porque ali ninguém falou em sustentabilidade, a não ser quando paramos no ateliê do Carcará, artista local que produz suas obras de arte com o produto da derrubada de coqueiros (em breve vídeo).
Ordem cronológica
Tudo começou com o “safári de jipe” pelas cachoeiras do interior. Depois de horas e horas na BR a ver um marão besta de canaviais, chegamos ao centenário Engenho Canoas, onde a Clarinha encontrou a dona Maria e eu tonteei por absoluta falta de água. A segunda parada foi o Baobá centenário que ilustra este post devidamente mantido no meio de uma pracinha cercada por casas pobres por todos os lados.
Depois de mais alguns quilômetros a fio de plantação de cana, pontilhadas por casarios claramente pobres, habitados pela gente curtida e simpática que acena para a caravana de visitantes, vieram as cachoeiras. Primeira questão, na cachoeira do Urubu: a preguiça que passou de colo em colo aos berros de “que fofa”! Não, não é bacana pegar preguiça no colo. Lugar de preguiça é na árvore, solta – de preferência sem gente por perto. Imagino que a pobrezinha garanta a sobrevivência dos pobres humanos que vivem graças aos turistas – e nos ofereceram uma comida maravilhosa e honesta à beira de outra cachoeira (onde os nerds foram devidamente atacados pelas muriçocas).
Diversidade? Nem pensar. O jipe da Village People identificou apenas uma ou duas plantações de maracujá, um roçado de mandioca (aipim?) e algumas hortinhas, provavelmente para consumo próprio. Da mata atlântica que cobria a área, só o que havia era o parque aquático que visitamos e mais uns cílios em volta da cachoeira onde tomamos banho e outro tanto naquela em que almoçamos…Tristeza pouca é bobagem.
O mar, quando quebra na praia…
A costa de Porto de Galinhas é conhecida pelos seus corais e piscinas naturais. Eleita pela oitava vez a melhor praia do Brasil, as maravilhas naturais estão sob a intensa pressão da visita turística. Basta dizer que, segundo a Secretaria de Turismo, a ocupação dos hotéis locais está em 80% e 90% dependendo da época. Pelo que pudemos ver, a bordo de jipe, buggy ou ônibus, haja hotel e pousada! E todo mundo vai com fé conhecer as piscinas naturais, fazer passeio no projeto Hipocampo, conhecer a ponta das Galhetas, a ilha de Santo Aleixo, a praia dos Carneiros. Cada cenário é lindo de viver, como diz minha Rainha, que cresceu veraneando por lá.
Entretanto, todavia, contudo… A natureza local depende diretamente da educação dos visitantes para manter tudo como está. Em uma das piscinas naturais na frente da vila, que tem a forma do mapa do Brasil vi, em dois segundos, duas pessoas colocando os pezões calçados para dentro da área de segurança demarcada pelos jangadeiros com uma corda, pois não se pode mergulhar nem tocar. Não, não era nenhum dos 58 blogueiros que estavam na ação, graças! Mas vamos combinar que respeito é bom e a natureza agradece…
Tem mais: os corais são organismos altamente sensíveis. Naquela sexta, dia 2, na maré baixa, havia pelo menos duas centenas (só nós éramos mais de cinqüenta, lembrem) chegando aos corais. Todo mundo a bordo de seus sapatos pisando nos ouriços e o que mais houvesse por lá. Apesar da água transparente, os corais são, sim, escorregadios e o movimento é gigante. Como ficam as estrelas do mar e outros organismos que compõem a beleza local?
A rodovia que leva à cidade está em obras. Além da duplicação, fui informada que haverá uma ciclovia lá e que os hotéis oferecerão bicicletas aos turistas. Tudo deve ficar pronto em abril de 2010… Eu fico aqui imaginando: além da política padrão de economia de água nos hotéis (no Village trocaram as nossas toalhas todos os dias), do cuidado com os jardins sempre verdes, eles implantaram um tratamento de esgoto bacanudo?
Há bugueiros e jangadeiros muito bem treinados. Gostei de ver o cuidado de todos nas piscinas naturais e nos mangues. São guias curtidos de sol, que tentam garantir a diversão e ao mesmo tempo a preservação da beleza. Que depende, também, de quem visita o lugar… Que o diga quem, como a MaWá, conheceu Muro Alto antes dos resorts…
Garanto que o próximo post será mais divertido e menos ecochato. Mas não dá para deixar as belezas deste nosso Brasil irem maré abaixo, dá?