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07
jan
2009

Ano Novo, Ortografia Nova: conheça as novas regras

Imagem: Letter mosaic mosaic por mag3737 no Flickr

Como disse a Lu Monte em uma das muitas discussões do ano passado, não é nada do além. Muda a grafia de 1,5% das palavras que usamos. E a indústria vai ganhar rios de dinheiro fazendo reciclagem, guias rápidos e outros nem tanto. Para ajudar colegas blogueiros e visitantes ocasionais, um pequeno resumo extraído do Guia Prático criado pelo professor Douglas Tufano, disponível para download no iG Educação.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995. Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita e não afeta nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.

Nem vou comentar a mudança no alfabeto. Já era ridículo não existirem oficialmente letras mais que usadas como k, w, y.

Trema

Não se usa mais o trema, sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. O trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.

Como era Como fica
agüentar aguentar
argüir arguir
bilíngüe bilíngue
cinqüenta cinquenta
delinqüente delinquente
eloqüente eloquente
ensangüentado ensanguentado
eqüestre equestre
freqüente frequente
lingüeta lingueta
lingüiça linguiça
qüinqüênio quinquênio
sagüi sagui
seqüência sequência
seqüestro sequestro
tranqüilo tranquilo

Mudanças nas Regras de Acentuação

1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).

Como era Como fica
alcalóide alcaloide
alcatéia alcateia
andróide androide
apóia (verbo apoiar) apoia
apóio (verbo apoiar) apoio
asteróide asteroide
bóia boia
celulóide celuloide
clarabóia claraboia
colméia colmeia
Coréia Coreia
debilóide debiloide
epopéia epopeia
estóico estoico
estréia estreia
estréio (verbo estrear) estreio
geléia geleia
heróico heroico
idéia ideia
jibóia jiboia
jóia joia
odisséia odisseia
paranóia paranoia
paranóico paranoico
platéia plateia
tramóia tramoia

Atenção: Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

Como era Como fica
baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva
cauíla cauila
feiúra feiura

Atenção: Se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú,
tuiuiús, Piauí.

3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).

Como era Como fica
abençôo abençoo
crêem (verbo crer) creem
dêem (verbo dar) deem
dôo (verbo doar) doo
enjôo enjoo
lêem (verbo ler) leem
magôo (verbo magoar) magoo
perdôo (verbo perdoar) perdoo
povôo (verbo povoar) povoo
vêem (verbo ver) veem
vôos voos
zôo zoo

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Como era Como fica
Ele pára o carro. Ele para o carro.
Ele foi ao pólo Norte. Ele foi ao polo Norte.
Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo
Esse gato tem pêlos brancos. Esse gato tem pelos brancos.
Comi uma pêra. Comi uma pera.

Atenção:

Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

  • Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.
  • Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:
    • Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros.
    • Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba.
    • Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.
    • Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.
    • Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.
    • Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.
  • É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

5. Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir. (comentário: aqui quem vai ter que se adaptar acho que são os juízes. Alguém já escreveu um texto com alguma destas palavras?)

6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja:

a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas. Exemplos:

enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.

delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.

b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas. Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser
pronunciada mais fortemente que as outras):
enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.

delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.

Atenção: No Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos.

Uso do Hífen

Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, para facilitar a compreensão dos leitores, apresentamos um resumo das regras que orientam o uso do hífen com os prefixos mais comuns, assim como as novas orientações estabelecidas pelo Acordo.

As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos ou por elementos que podem funcionar como
prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice e companhia limitada.

1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos:

  • anti-higiênico
  • anti-histórico
  • co-herdeiro
  • macro-história
  • mini-hotel
  • proto-história
  • sobre-humano
  • super-homem
  • ultra-humano

Exceção: subumano (neste caso, a palavra “humano” perde o h).

2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Exemplos:

  • Aeroespacial
  • Agroindustrial
  • anteontem
  • antiaéreo
  • antieducativo
  • autoaprendizagem
  • autoescola
  • autoestrada
  • autoinstrução
  • coautor
  • coedição
  • extraescolar
  • infraestrutura
  • plurianual
  • semiaberto
  • semianalfabeto
  • semiesférico
  • semiopaco

Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s. Exemplos:

  • anteprojeto
  • antipedagógico
  • autopeça
  • autoproteção
  • coprodução
  • geopolítica
  • microcomputador
  • pseudoprofessor
  • semicírculo
  • semideus
  • seminovo
  • ultramoderno

Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante etc.

4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos:

  • Antirrábico
  • Antirracismo
  • antirreligioso
  • antirrugas
  • antissocial
  • biorritmo
  • contrarregra
  • contrassenso
  • cosseno
  • infrassom
  • microssistema
  • minissaia
  • multissecular
  • neorrealismo
  • neossimbolista
  • semirreta
  • ultrarresistente
  • ultrassom

5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal. Exemplos:

  • anti-ibérico
  • anti-imperialista
  • anti-inflacionário
  • anti-inflamatório
  • auto-observação
  • contra-almirante
  • contra-atacar
  • contra-ataque
  • micro-ondas
  • micro-ônibus
  • semi-internato
  • semi-interno

6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante. Exemplos:

  • hiper-requintado
  • inter-racial
  • inter-regional
  • sub-bibliotecário
  • super-racista
  • super-reacionário
  • super-resistente
  • super-romântico

Atenção:

– Nos demais casos não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.

– Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc.

– Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano etc.

7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal. Exemplos:

  • Hiperacidez
  • hiperativo
  • interescolar
  • interestadual
  • interestelar
  • interestudantil
  • superamigo
  • superaquecimento
  • supereconômico
  • superexigente
  • superinteressante
  • superotimismo

8. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen. Exemplos:

  • além-mar
  • além-túmulo
  • aquém-mar
  • ex-aluno
  • ex-diretor
  • ex-hospedeiro
  • ex-prefeito
  • ex-presidente
  • pós-graduação
  • pré-história
  • pré-vestibular
  • pró-europeu
  • recém-casado
  • recém-nascido
  • sem-terra

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim. Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

11. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição. Exemplos:

  • Girassol
  • madressilva
  • mandachuva
  • paraquedas
  • paraquedista
  • pontapé

12. (esta aqui não importa muito para a gente na web, mas vá lá) Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:

Na cidade, conta-
-se que ele foi viajar.

O diretor recebeu os ex-
-alunos.

Links úteis:

A dupla dinâmica zás-trás Edney e Inagaki criou um conversor de textos para a nova ortografia. Utilíssimo e rápido para resolver assuntos urgentes e imediatos.

Guia prático Michaelis no UOL (do mesmo autor)

O melhor de tudo: BROffice (o processador de textos livre, que todo mundo pode ter) já lançou o seu corretor ortográfico ornando com as novidades…

Update: via capa do blogblogs, ótimo conversor encontrado pelo Clavatown

update 2: Mais um lugar para corrigir os textos na web: Ortografia

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Categorias:
Brasil, educação

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