Tenho o péssimo hábito de odiar muito o fim de ano. Desde antes do Natal até os primeiros dias de janeiro tenho o mau costume de ficar de mau humor comigo mesma – apesar de sorrir e participar de todas as festas que me apareçam no caminho. Como sempre, meu refúgio é a internet. Aqui encontro gente, converso, jogo, assisto às minhas séries. Para ter um refresco durante dias detestáveis a internet costuma ser meu lugar de preferência.
Pois em 2017 fiz diferente. No dia 30, me enfiei num canto escondido no meio do mato, para um retiro de meditação, num lugar sem energia elétrica e/ou conexão com a internet. Voltei dia 5, para encarar todas as contas a pagar e um ano novinho em folha.
Confesso que não senti falta das redes sociais – talvez tenha pensado um ou dois tweets que valessem a pena. Entre verde, caminhadas, cachoeiras geladas e muita meditação, a vida ficou mais tranquila e entrou num ritmo interessante de acordar de madrugada e dormir junto com o sol – o absoluto oposto do que tenho feito em São Paulo.
Senti falta, sim, do Spotify, dos meus joguinhos no celular e das conversas divertidas nos grupos do Telegram. Não houve nenhuma maratona de série no Netflix. Foram 7 dias sem nenhuma notícia, praticando meditação 3 vezes por dia, falando muito pouco, observando campos, matas, chuvas, nascer e pôr do sol. 7 dias indo para a cozinha preparar comida com cuidado e amor. Comendo com regra e gosto, em silêncio. Li dois livros inteiros (romances bobinhos da Marion Keyes) e comecei um terceiro, policial, que promete ser ótimo.
Esta última semana provou que sou uma pessoa digital tanto quanto física. Sim, a minha ausência da internet, dos comunicadores e redes foi notada – e causou preocupação em várias amigas queridas. Afinal, eu simplesmente fui e não avisei ninguém que estaria fora do ar.
Sem notícias, as pessoas que mandaram votos de feliz natal, bom ano novo ou simples contatos ficaram penduradas no vazio. Porque ainda não existe um bom jeito de avisar que estamos fora nas ferramentas de comunicação? Não um vídeo que evapora, não um stories. Um simples aviso: estou fora, volto dia tal. Sim, como a gente faz no email de trabalho…
Fica claro que Whatsapp, Messenger, Telegram e cia ilimitada foram feitos para todos terem acesso instantâneo uns aos outros. E que não se deseja que as pessoas simplesmente parem de usar – seja por uma semana, um dia ou uma hora. A ideia é que os números de notificações te mantenham grudada no fluxo, online, ansiosa/o por uma resposta e pela salvação que nunca vem.
E esse tempo offline mostrou que é muito bom não estar e estar. Meditar, caminhar, respirar, alimentar-se bem. Isso é o que qualquer corpo humano precisa para ter saúde. E como resultado, além do descanso e da renovação, voltei recheada de ideias, hipóteses e amando o silêncio.
Bastou uma semana sem internet, redes sociais ou comunicadores para me sentir mais forte para enfrentar as durezas e molezas que fazem parte da vida.
Sim, foi uma experiência radical passar uma semana sem acesso online, conferindo a saúde da família a cada dois dias, por telefone fixo. Naquele sítio, cercada por verde e água, relembrei que pouco importa o tweet do Trump ou a bobagem do Temer – dois ótimos exemplos da idiotice que acomete o século 21, saída do século 20, como eu. Que a vida há de seguir, apesar dos homens, rumo a um futuro que talvez seja melhor.
Feliz 2018 pra todas e todos.
Fotos: Death to Stock, @grubels, Unsplash