Em março de 2007 aconteceu o primeiro Barcamp aqui em São Paulo. Sábado e domingo de desconferência. Mas já? Como foi que esse tempo todo passou? Mudanças, transformações, inovações…
Vocês querem ver? No BarCamp, os organizadores precisaram de instruções prévias, espaços muitos da Casper Líbero e provocou dezenas de ótimos encontros.
Em 2007 o Blogger era maior que o WordPress. Em 2017, WordPress responde por 27% da web usa WordPress, de blogs de várzea aos maiores sites de notícias. São milhões de sites no mundo – é a plataforma mais bacana (e hackeada) do planeta.
O Twitter era uma ferramenta que poucos conheciam e usavam. O Facebook não existia em terras brasileiras – sim, ainda eram os tempos do finado Orkut por aqui. O Marco Gomes era ainda mais moleque (e com a cara cheia de espinhas). O evento Barcamp marcou os braços brasileiros da internet com uma agitação única. Snapchat, Instagram? Nem sinal – aliás, nem smartphones a gente tinha direito.
2007 foi um ano muito especial para a cena digital no Brasil.
Começamos com o BarCamp, seguimos agitando muito em muitos grupos – e nos blogs – e continuamos sem medo, com BlogCamp, muitos memes, desafios, posts cruzados, uma linkania à solta que há muito tempo não vejo.
[Nota aleatória: eu sempre fico impressionada em voltar a meus textos na época. Telegráficos, curtos, fechados em si, desinteressados de outras referências e/ou relações e ao mesmo tempo, lotados de links, muitos links.]
Em agosto, houve o primeiro BlogCamp, organizado por esta pessoa, Manoel Netto e Gabriel Tonobohn (cadê ele?). Ainda existia o Espaço Gafanhoto – que acabou por se tornar sede de muitos encontros enquanto existiu, espaço preferido para expressão de nossa inquietude.
Tempo de blog moleque, de várzea. Em que a gente ranqueava lindamente no tio Google – melhor que qualquer grande veículo dependendo do foco. De pessoas “comuns” produzindo muito conteúdo bom, junto com muito chorume, muito bullying, muito sexismo. Como sempre, o digital é uma expressão das pessoas – tudo é, ao fim e ao cabo.
Tempo de comunidade junta, de luto, de luta, debates. Ainda era tempo em que eu participava religiosamente de alguns eventos digitais: BlogDay (se você der uma busca aí ao lado encontrará os textos); escrevia muito sobre ecologia e sustentabilidade – que acabou resultando em escrever para o Ecoblogs, projeto infelizmente descontinuado – e conhecer pessoalmente muita gente bacana de todo o Brasil e também de outros cantos do planeta.
Se antes a gente se reunia nos grupos de e-mail, hoje a comunidade está junta em grupos à solta pelo Facebook, em contato graças aos muitos anos de proximidade. E sem o gosto de união – e desunião – que marcou tantas passagens na nossa história recente.
Se antes os blogueiros eram os principais “queridinhos” das marcas, agora são youtubers, instagrammers, snapchaters – e inclusive todos os dinossauros estão nas “novas” plataformas.
Também há os grupos no Whatsapp ou Telegram, lugares instantâneos e que criam uma enorme proximidade – e facilidade para trocar notícias.
Esse post ficou por aqui por muitas semanas. Parei pra pensar: o que ficou de tanta história? Em 2008, eu começaria a caminhada do LuluzinhaCamp. Estrearia a CampusParty no Brasil, lugar que foi fundamental, por exemplo, para as articulações contra o PL do Azeredo, o AI5 Digital.
As transformações vieram, se instalaram, algumas já morreram, outras estão aí, absolutamente estabelecidas – quem diria que WordPress seria o motor da internet? Ou que o Flickr iria morrer junto com o Yahoo!? (que ainda vive e paga jornalistas, ainda bem). Ou que a audiência dos blogs iria em bloco unido pro Medium?
O que resta de todos os encontros são as amizades (e as inimizades também, como não?). Os grupos formados deixam nas vidas digitais de todos nós relações que se mantêm vivas, fortes, que funcionam em outros canais, com menos links, talvez, mas caminhões de informação ainda são trocados e compartilhados todos os dias.
Mudou a velocidade de tráfego, a infra-estrutura de internet continua capenga – se bem que o 4G pode ser salvação, a depender do bom humor da prestadora do serviço – e os “nós” onde a gente se encontra. Eu continuo fã de blogs, mas voltei a namorar com o jornalismo.
Se o blogroll sumiu, ele também se mantém, apesar do sumiço do reader, dignamente substituído pelo Feedly. E a gente segue publicando – se você não viu é porque não está no mundo (ainda).
Sim, houve perdas – muitas. Para além de pessoas, foram plataformas. Um exemplo? Gafanhoto fechou. O BlogBlogs sumiu. Vários blogs – coletivos e individuais já não existem. Eu me pergunto – quase todo santo dia – porquê ainda pago hospedagem, renovo domínio ou penso mudanças. Eu e todos os que ainda mantêm seus blogs. Passo meses, semestres sem escrever uma única linha… Afinal, a audiência tá fervendo mesmo é no YouTube.
[era pra continuar, mas não vou. que a gente possa seguir em frente, navegando as mundanças e transformações, mantendo nossos blogs como for possível]