10
jan
2015

14 coisas que vi nascer

Tô fazendo bodas de ouro no planeta azul. E testemunhei ao vivo e a cores, o nascimento de vários serviços, tecnologias, movimentos. Eis alguns – escolhidos pelas gargalhadas que provocaram ao lembrar deste fato:

Computador pessoal – Sim, sim. O primeiro foi o TK-85 que era movido com um gravador de fita cassete. A gente comprava as revistas com os códigos, eu digitava (com irmãos mais novos ao lado caçando errinhos de digitação) e depois todo mundo jogava, graças à TV 10 polegadas preto e branco. Infelizmente a família nunca conseguiu comprar o Atari, que foi o próximo objeto de desejo que também vi nascer. O meu primeiro PC foi um 486, comprado em 92 graças à publicação do meu primeiro livro, Esquadrilha da Fumaça, 40 anos. Graças a ele, ao modem (qual foi mesmo a primeira velocidade? 4800kbps? Juro que não lembro, mas esse foi trocado frequentemente) e um link via Embratel (disponível graças a um amigo na Agência Estado), eu podia produzir matérias sobre um certo negócio chamado internet, que estava brotando. E foi aí que o computador deixou de ser uma máquina de escrever gigante e mais bacana para ser algo com outras utilidades – sem contar o Wolfestein 3D, vício meu e do irmão nerdão.
Microsoft – Nunca vou esquecer quando usei o MS Word pela primeira vez. Foi em 92, na primeira assessoria de imprensa em que trabalhei. A gente trocou o barulho das máquinas de escrever pela salinha dos computadores – e os que tinham tela âmbar eram disputados a tapa! Ter usado programas em estado inicial tem uma vantagem competitiva: até hoje lembro alguns comandos, não apavoro com telas de comando e consigo navegar por códigos com alguma desenvoltura. Apesar de conhecer o OpenOffice, eu não desgrudo do pacote Office e do Live Writer (que parou de ser atualizado, infelizmente), que são absolutamente úteis.
Apple – Sim, sim, sim. O AppleII era um desejo, até que fui trabalhar numa tal revista Bizz (ed. Azul) e tive que conviver com dois teclados diferentes na minha vida (um US em casa e um Apple no trampo). Ninguém merece. Até hoje eu tenho raiva da tecla comand. Tudo bem, sei usar, conheço acentos e talz, mas, gente! Hoje a empresa segue aí fazendo equipamentos ótimos, que custam os olhos da cara e eu continuo com dois pés atrás pra colocar meu dinheiro em qualquer coisa que seja fechada assim.
Celular – Primeiro vieram os StarTaks da Motorola. E uns poucos ricos falando sem precisar de orelhão no meio da rua. O meu primeiro foi um Nokia, comprado da BCP (hoje Claro) em 1997. Se a principio era símbolo de status, virou pura democracia. Apesar das operadoras, apesar do sucateamento da Anatel, foi reinventado pela tia Apple com o iPhone e ganhou tamanho de Sol no universo dos gadgets.
Web – A invenção do Sir Berners-Lee me faz sorrir, em geral. Ano passado fiquei de mal. Só pra voltar a me apaixonar. Começou com a gente lutando com modems, depois vieram os muitos navegadores, criação de sites, o Yahoo! Como rei do pedaço, o Google como dono da cocada preta, o zuck pintando tudo de azul… Aí vêm os intolerantes e matam uma dúzia em Paris e … graças à internet + Twitter você pode acompanhar todas as manifestações, chorar litros, encontrar pessoas novas.

Ao fim e ao cabo, o maior defeito da internet, pra mim, é que hoje ela virou espelho do mundo. O resultado óbvio (e chato) é que se mantém a proporção de 90% de idiotas para 10% de pessoas bacanas. [O amigo que inventou a proporção atualizou pra 99% eu vou ficar com 90% porque sou otimista]
Blogger – foi o primeiro filho do Ev Williams, que também nos ofereceu Twitter, Odeo e, mais recentemente Medium. A plataforma foi responsável por popularizar os blogs e, apesar das suas muitas limitações ainda é muito usada até os dias de hoje. Aliás, vale dizer que ainda tenho, na minha conta Blogger, uns muitos blogs inativos. 🙂
Redes Sociais – A primeira foi o Orkut, precursor da febre brasileira por rede social, também tinha o dom de me encher a paciência, como o sucedâneo do tio Zuck. Ao contrário do último, fez furor na mídia tradicional brasileira, que ainda não tinha entendido direito os efeitos da linkania na comunicação, nem a mudança de paradigma. Foi divertido o iogurte, enquanto durou. Redes sociais são, por natureza, diversão bacana. Dureza é aquela proporção previamente citada.
Redações informatizadas – Ai, velhice! Sim, minha gente, eu vi os terminais burros serem instalados na Folha, Estadão, Abril etc. Fui obrigada por amor ao texto a usar programas bem ruins de editoração. Com o passar do tempo melhorou – mesmo assim, na última passagem por grande veículo (Estadão), vocês imaginam que o apelido do programa era Vermes (Hermes no original). Precisa desenhar? 🙂 O melhor da fase anterior era a sinfonia de tectec de máquina de escrever no fim da tarde, bolinhas de papel e talz. Sim, jornalistas também sabem ser moleques. E redações já foram muito diferentes das repartições atuais, onde se ria, falava alto, não se atendia ao telefone (acho que esta mania permanece).
Projeto Genoma Humano– eu vi! Vi a comunidade científica do mundo inteiro mapear os genes, desbravar a genética humana de um jeito inimaginável. Graças, claro, à capacidade de processamento dos computadores. Esta é uma informação genial, básica, importante e que já rendeu uns muitos avanços – tipo, eu sei que sou portadora de gene para artrite graças a um simples exame de sangue.
Um planeta mais quente – nunca imaginei, quando tomava banho de chuva no quintal de casa, que viveria pra ver isso. A gente acabou com o planeta. Gafanhotos, vírus, humanos do mal. Me preocupa, sim, é que do jeito que a coisa tá degringolando rápido, a encrenca não vai ficar pros sobrinhos e me verei idosa (mais) sofrendo os mal feitos de toda uma civilização com o planeta.
A multiplicação das faculdades – coloquei na lista, confesso, só pra poder cometer um clichê: no meu tempo… existiam poucas Universidades/Faculdades neste país. O mar de instituições de ensino superior significa, sim, que um pedaço do trabalho foi feito.
A constituição brasileira (88) – Já mexeram MUITO na pobre, os nobres continuam a escorchar o populacho com salários, aposentadorias e facilidades mils, enquanto o populacho continua a sustentar os caras e se ferrar com transporte público caro e ruim, saúde pública sofrível, educação fraca e quetais. Há ilhas de excelência, sempre exceções, o que é muito triste. Com o tanto de impostos que o brasileiro paga – e a qualidade da produção nacional – poderíamos, sim, ter avançado mais nos quesitos básicos. E pensar que em 2018 a mocinha fará trinta anos e se tornará balzaca. Será que a gente consegue reforma política antes disso? [Duvido]
O Marco Civil da Internet (virou Lei 12965) – esta é a lei que tenho orgulho de ter visto ser plantada, criada, discutida, etc – e ainda ter participado do processo. A mocinha tem três páginas, mas o livro que o doutor Ronaldo Lemos organizou sobre o assunto é um catatau. Orgulho define.