Faz tempo, muito tempo que não escrevo sobre blogar aqui. Mas o texto do David Sasaki, publicado no Rising Voices, divulgado pelo Daniel Duende, fez dona Joaninha se mexer. Taí a tradução parcial (não traduzi a última parte, sobre financiamentos para projetos). Quem quiser pode republicar, desde que sejam dados os créditos para cada um de nós.
Meus caros,
Não é raro eu escutar dos coordenadores de mídia cidadã que eles ficam desapontadíssimos porque tantos de seus participantes param de blogar dois ou três meses depois do primeiro post. É um problema comum, mas na minha opinião é mais um problema de expectativas do que de resultados.
A grande maioria de nós investiu algumas horas para aprender a tocar piano, guitarra ou um outro instrumento. Entretanto, apenas uns poucos continuam a tocar quando se tornam adultos. Na verdade, a maioria de nós provavelmente parou de tocar alguns poucos meses depois das primeiras aulas. Isso não significa, de forma alguma, que os professores de piano devam se sentir desmoralizados por sua suposta “baixa adesão”. Afinal, só encontraremos os melhores músicos ensinando os fundamentos da música ao maior número de pessoas possível. Imaginem quantos Mozarts, FEla Kutis e Gilberto Gil passaram silenciosamente pela história porque não tiveram a oportunidade de expressar seu talento musical.
Blogar vai mais ou menos na mesma linha. Quase todo mundo consegue apertar as teclas do piano, e quase todos também conseguem começar e alimentar um blog. Mas isso não significa que todo mundo consiga mantê-lo vivo. Na minha experiência, apenas 10% dos participantes dos workshops de blogs que facilitei continuavam a blogar seis meses depois.
Uma ferramenta importante para tempos importantes
Os outros 90% de participantes escrevem eventualmente, ou não escrevem. Mas, significativamente, a maioria lembra como publicar em um blog meses e até mesmo anos depois do workshop. Isso é importante porque em tempos de emergência nós precisamos de um meio para compartilhar informação.
Por exemplo, muitos dos participantes dos workshops organizados pelo Foko Madagascar pararam de blogar por semanas depois de começarem seus blogs. Mas quando uma crise política atingiu seu país, o que levou a um golpe de estado, muitos destes mesmos novos blogueiros atinaram para a importância de compartilhar as informações locais com a audiência internacional em tempo real. E diversos destes mesmo indivíduos se tornaram fontes de informação importantes para todos que queriam saber sobre a crise política em Madagascar. Lova Rakotomalala, um dos quatro fundadores do Foko, explicou em detalhes como os blogueiros e twitters de Madagascar conseguiram influenciar a cobertura internacional da crise.
O que isso significa para os facilitadores?
Acima de tudo é importante ter expectativas realistas e sentir-se satisfeito mesmo que uns poucos participantes se tornem blogueiros apaixonados. Heather Ford, uma conhecida blogueira sul-africana, organizou um workshop em Durban e sentiu-se frustrada. Ela sugere que se cobre uma pequena taxa pelos workshops para assegurar que os participantes realmente têm desejo de aprender e aplicar este conhecimento. Os que não têm dinheiro podem escrever pedindo uma bolsa de estudos.
Alguns psicólogos sugerem, inclusive, que existem traços de personalidade comuns à maioria dos blogueiros. Como um coordenador de projeto você pode buscar pessoas que mostram estes traços.
Na minha experiência, entretanto, é impossível prever quem vai continuar ou não a blogar. Blogar, como tocar um instrumento ou desenhar, é uma habilidade nobre a ser aprendida em nome da expressão. Além disso, você nunca saberá quem será o próximo Ravi Shankar, Michelangelo ou o próximo grande blogueiro(a) até que ele tenha a chance de aprender como fazer e as ferramentas que tem à disposição. Blogues são apenas ferramentas. O que importa são as pessoas por trás deles, seus interesses e motivações.
Tudo de bom
David”
Update (do comentário do Duende): Colocamos uma última frase: “Blogues são apenas ferramentas. O que importa são as pessoas por trás deles, seus interesses e motivações.”
Tem blogueiro por aí que bloga só porque dá dinheiro. Ainda sou um bocado cético sobre os benefícios que eles trazem às blogosferas das quais fazem parte. Mas blogosferas são assim mesmo… uma expressão da diversidade. Só não podemos esquecer que blogar não é, ou não deveria ser, igual a ganhar dinheiro. Se um dia esquecermos que um dia já se blogou apenas por paixão ou ideologia, alguém terá que inventar uma ferramenta nova, e os blogues vão ficar iguais à velha mídia que adoram alfinetar — escravos dos interesses que os bancam.
Imagem: moocards for blogging workshop, de Mexicanwave, no Flickr, em CC