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18
jan
2011

“Desastre climático” é tucanar incompetência

Nova Friburgo, foto: Valter Campanato/ABrFoto: Valter Campanato, Agência Brasil

Uma semana de silêncio sobre a tragédia que não para de se desenrolar na Região Serrana do Rio. Diante das primeiras imagens, o choque da natureza a mostrar que é maior que nós. Escrevo nesta segunda, enquanto os pares estão na fila da Campus Party, sob o primeiro céu azul dos últimos 15 dias, acho. Alívio? Não.

Os relatos que chegam do Rio são estarrecedores. Nos grupos de discussão, no Twitter, nos e-mails dos amigos queridos que perderam amigos queridos. A desgraça tem fluxo ininterrupto e, claro, resulta em lágrimas, muitas. A reação é óbvia: todo mundo se mobiliza para ajudar. Ressurge alguma esperança (com ressalvas) na humanidade.

Não somos Bangladesh nem Haiti e não há nada previsto para eventos como a chuvarada da semana passada. Num vale naturalmente coletor de água, os números de mortos se acumulam. Num e-mail de hoje, o relato da protetora Luiza Pinheiro dá a dimensão da situação em Teresópolis:

A cidade é o Haiti, nas regiões mais afetadas o cheiro está insuportável, os corpos chegam em caminhões baú, 60, 80 de uma vez. Ou levados pelos moradores que ainda têm carro, em pickups, caminhonetes, fuscas. Não se conseguiu fazer uma contagem oficial, os que foram computados são apenas os que foram reconhecidos. Pessoas passam boiando pelos rios.

Pelas ruas os corpos estão amontoados, ou sob escombros que máquina nenhuma conseguirá retirar. Começam-se a encontrar pés, braços.

Claro que a população não é boba é começa a fazer as coisas sem esperar nada das tais “autoridades”. Que de competentes não tem nada. Hoje o ambientalista Sergio Ricardo enviou e-mail com matérias sobre o mapeamento das áreas de risco. Sim, eles sabiam. Não, eles não retiraram as pessoas de lá. Claro que o “desastre climático” foi “inesperado”. O INPE cumpriu a sua função e avisou os prefeitos, às 15h de terça-feira, do evento. Eles juram de pés juntos que não deu tempo de fazer nada… como assim? Os especialistas não cansaram de explicar as razões dos deslizamentos.

Estes caras estavam pensando o quê? Nada. Eles sabem, de cátedra, que daqui a pouco todo mundo esquece o desastre. Tratam de contar as vítimas para menos, convocar ajuda, pedir verbas federais e podem ter certeza, vai sumir um monte de dinheiro destinado à reconstrução. Nosso dinheiro. Temos outros bons exemplos no retrospecto populista. Eles contam com o esquecimento da população. Me recuso a colaborar com isso. Por isso escrevo aqui para deixar uma marquinha que seja na rede.

O desastre é climático, previsto. Está na hora deste país pensar em seus cidadãos em primeiro lugar. Não importam a classe social, as posses. Importa preservar as vidas e atender cidadãos de forma consistente. Ver na primeira página do jornal montanhas de água mineral paradas à espera de indicação de onde devem ser entregues pelos helicópteros do exército é o fim da picada.

As queridas Renata Lino, Babby e Manu Rangel já organizaram uma lista de discussão específica (SOS Serra) para continuarmos a ajudar a Região Serrana depois que terminar a grande exposição midiática.

Prestem atenção, colaborem, mandem donativos. E olho vivo na politicagem. A gente precisa amarrar estes caras à nossa vontade e fazê-los prestar contas por seu descaso.

P.S. 1: tive orgulho da nossa presidenta Dilma Russef na sua entrevista coletiva. Mulher de garra, firme e consistente.

P.S.2: antes mesmo de eu publicar este desabafo, a notícia chegou. O governo federal vai reorganizar a Defesa Civil em todo o País e investir em prevenção. Claro que não é para amanhã, mas é uma luz no fim do túnel. Oremos para que não seja um trem.

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